Atualmente, o Brasil tem mais de 28 milhões de trabalhadores por conta própria, uma economia que movimenta mais de R$ 288 bilhões por ano. 51% desses empreendedores são pessoas negras, que geram mais de R$ 73 bilhões por ano. Adriana Barbosa criou a Feira Preta há 20 anos com intuito de promover e incentivar a população negra a ter o próprio negócio. A empresária lembra que, em 2000, o cenário era bem distinto do atual e que grande parte dos negros empreendiam como uma medida de sobrevivência, por não conseguirem emprego. “O Brasil é outro em relação a essa perspectiva do ponto de vista do empreendedorismo e do consumo. Antes, a gente só falava da população negra enquanto empreendedora muito pelo empreendedorismo por necessidade, hoje há negros empreendendo em diferentes áreas, desde negócios de impacto social, negócios da área da tecnologia, negócios criativos, negócios tradicionais. Acho que a gente tem transitado da necessidade para a oportunidade”, afirma Adriana. Ao mesmo tempo em que 54% dos brasileiros são negros, segundo dados do IBGE, essa população sofre diariamente com o preconceito que, segundo o levantamento encomendado pela Feira Preta, é um dos principais entraves para que as pessoas se tornem empreendedoras. Adriana lembra também que, por serem mais da metade da população, eles são consumidores, mas que só nos últimos anos o mercado a olhar para esse nicho.
O impacto econômico negativo causado pela pandemia fez Adriana Barbosa despertar para a digitalização desses negócios, já que a demanda tecnológica se intensificou. “Com tecnologia, digitalização dos negócios, já faz um ano e meio que a gente tem investido nesse tema, letramento digital, a gente montou duas casas físicas, uma em São Paulo e outra em Cachoeira, com com estruturas de estúdio de foto e vídeo, para que os empreendedores possam produzir conteúdo e vender”, afirma. Quando o assunto é autoimagem o estudo encomendado pela Feira Preta também aponta mudanças significativas. No Brasil, nos últimos anos, o percentual de pessoas que se identificam como negras cresceu nove pontos percentuais.
Márcia de Jesus criou há dois anos uma marca que traz, através das peças que ela confecciona, a identificação entre as crianças. A empresária conta que foi num episódio específico com a filha Valentina que fez ela começar um novo negócio: “Eu comprei uma mochila para ela. E essa mochila ela tinha uma bonequinha pretinha pendurada. E ela ficou encantada e disse ‘parece comigo’. Aquilo me despertou”. Márcia lembra o peso e a relevância que a população negra tem para o mercado. “Nós somos 54% da população, então eu falo que é um trabalho de formiguinha, porque a gente consome, o dinheiro está nas nossas mãos. Somos a maioria, então eu vejo que a partir do momento que as empresas tiverem esse olhar para o empresário preto, a história vai mudar, tudo vai ficar diferente e vai chegar a quem tem que chegar realmente”, pontua. Márcia começou a fazer chinelos e moletons e agora também faz jogos de cama, todos com personagens negros para que as crianças sintam-se representadas.
Radar Político365 com informações da Jovem Pan.