O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro referente ao primeiro trimestre de 2022 será divulgado às 9h (horário de Brasília) desta quinta-feira (2). Nos últimos meses, os analistas fizeram revisões para cima sobre o desempenho da economia do país, com base em indicadores mais fortes do que o esperado. O consenso Refinitivaponta para um crescimento de 1,2% na comparação com o quarto trimestre de 2021 e de 1,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
As projeções variam de acordo com a casa de análise, mas de maneira geral os economistas veem o PIB do 1T22 sendo puxado por uma alta no consumo das famílias, que estimulou sobretudo o setor de serviços, e refletindo também a alta dos preços das commodities.
A XP estima um crescimento de 1,4% para a economia brasileira no primeiro trimestre em relação ao 4T21 e de 2,2% frente ao mesmo período do ano passado. “A atividade econômica cresceu fortemente nos últimos meses, implicando revisões altistas nas previsões de crescimento do PIB para 2022”, escreveu Rodolfo Margato, economista da XP.
Além da forte expansão do setor agrícola, da variação positiva dos estoques, a reabertura econômica e recuperação do emprego são outros fatores que jogam a favor do desempenho da economia. O salto nos preços das commodities impulsiona setores exportadores e gera efeitos de “transbordamento de renda” sobre outras atividades locais, explica Margato.
“Se nossa projeção estiver correta, o efeito de carrego estatístico para o crescimento do PIB em 2022 chegará a 1,9 ponto percetual”, diz o economista.
A XP espera expansão de 1,2% no PIB de serviços em relação ao quarto trimestre, com o fim de restrições relacionadas à pandemia. “Além dos benefícios da reabertura econômica, a expansão da renda real disponível às famílias também desempenhou papel fundamental”, afirma Margato.
Após três quedas consecutivas, o PIB da indústria deve apresentar um crescimento trimestral modesto de 0,2%. O da agropecuária, segundo cálculos da XP, deve apresentar uma contração de 0,5% em relação aos últimos três meses de 2021, por conta de quebras na safra de soja.
O Itaú prevê uma alta de 1,3% na comparação com o quarto trimestre de 2021 e de 2,1% em relação aos três primeiros meses do ano passado. De acordo com os analistas, os três principais segmentos devem apresentar crescimento de lado nas margens: agricultura deve avançar 2%, enquanto serviços sobe 0,7% e indústria, 0,4%.
O Bradesco projeta crescimento um pouco maior, de 1,7% na comparação com o trimestre final de 2021. “O resultado deverá ser impulsionado especialmente pelo avanço do consumo das famílias no período”, escreveram os analistas do banco.
Assim como a XP, o Safra prevê um crescimento de 1,4% na comparação com o quarto trimestre do ano passado. “A estimativa reflete um crescimento extraordinário das exportações, graças, principalmente, à antecipação da colheita de soja”, diz a análise do banco. As vendas do grão para o exterior crescera 40% no período.
Já em relação ao consumo das famílias, o Safra acredita em uma alta de 1%, “apoiado tanto em fatores permanentes, quanto em eventos transitórios”. Ainda que tenha começado a ser pago no final do ano passado, é no primeiro trimestre que a economia deve refletir o Auxílio Brasil, que acrescentou R$ 12 bilhões em renda em relação ao Bolsa Família.
Pelo lado do investimento, o banco espera um recuo, sem quantificá-lo, em linha com a diminuição da confiança dos empresários. “O desempenho da economia brasileira nos primeiros três meses do ano coloca um viés positivo para nossa projeção de 2022”, afirma a análise do Safra.
O banco, porém, ressalva que a elevação de juros no Brasil e no exterior e a retirada de estímulos fiscais devem “esfriar a atividade ao longo do segundo semestre”.
Recentemente o UBS revisou para cima sua estimativa para o PIB do primeiro trimestre de 0,5% para 1%. Os analistas afirmam que o crescimento tem sido surpreendentemente positivo desde o quarto trimestre do ano passado.
“Não foi um crescimento extraordinário, mas certamente melhor do que o mercado esperava até o terceiro trimestre do ano passado, quando a performance do PIB inspirava previsões negativas e a expectativa de um início de recessão”, diz a análise do banco, destacando revisões de expectativas de crescimento, sobretudo no setor de serviços.
Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do banco Goldman Sachs, elevou a sua estimativa para o PIB de 2022 de 0,9% para 1,2% recentemente. Para ele, a economia mostrou um “grau de resiliência” no primeiro trimestre e o aumento de preços das commodities levou a uma transferência adicional de renda para a economia.
Além disso, os três primeiros meses do ano marcaram uma efetiva reabertura econômica e adicionais de renda, como antecipação do décimo terceiro e Auxílio Brasil.
“Houve um conjunto de fatores que levou a um crescimento maior do que o esperado”, disse Ramos em entrevista ao Estadão. Mas ele também prevê um segundo semestre complicado, “com taxa de inflação em dois dígitos e condições financeiras e monetárias apertadas”.
InfoMoney