O governo da Bolívia condenou nesta terça-feira (28) a recente manifestação do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), sobre a situação da ex-presidente interina boliviana Jeanine Áñez. O país anunciou que fará uma queixa diplomática, por considerar as declarações “impertinentes” e uma “ingerência”.
O ministro das Relações Exteriores da Bolívia, Rogelio Mayta, concedeu entrevista coletiva para responder a fala de Bolsonaro, que prometeu oferecer asilo político para a ocupante da chefia de governo após a renúncia de Evo Morales.
– Lamentamos as infelizes declarações do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que são absolutamente impertinentes, fazem uma inapropriada ingerência em assuntos internos, não respeitam as formas de relacionamento entre Estados e não vão ao encontro com as relações de boa vizinhança e respeito mútuo entre Brasil e Bolívia – disse o chanceler.
Mayta afirmou que “sob nenhuma justificativa, pode ser aceita a ingerência nas decisões que, soberanamente, dizem respeito à justiça boliviana”.
O ministro disse que Áñez é acusada de cometer graves violações dos direitos humanos, segundo investigação realizada por um grupo de especialistas independentes enviados pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Mayta citou mortes ocorridas em novembro de 2019, em período de intensa convulsão social na Bolívia.
– As graves violações de direitos humanos merecem que seja feita justiça. Por isso, sequer pensar em uma situação em que Áñez possa escapar da justiça é inadmissível. A impunidade é inadmissível – disse o chanceler.
“INJUSTIÇA”
No último domingo (26), em entrevista ao programa 4 por 4, no YouTube, em transmissão que também exibiu nas suas redes sociais, o presidente brasileiro declarou que estava avaliando a situação de Áñez e a possibilidade de oferecer asilo à boliviana. Ele considera a prisão dela uma “injustiça”.
– (Ela) cumpriu um ano de cadeia, tentou duas vezes o suicídio, tive uma vez com ela apenas, achei uma pessoa bastante simpática, uma mulher, acima de tudo. E, há coisa de um mês, ela e o seu ministro da Defesa e o chefe de polícia foram condenados, todos, há dez anos de cadeia. Eu sei que a Jeanine está presa, vi umas imagens terríveis, uma mulher sendo arrastada pra dentro do presídio, sendo acusada de atos antidemocráticos (…). O que for possível eu farei para que ela venha para o Brasil, caso assim o governo da Bolívia concorde. Estamos prontos para receber o asilo dela, como desses outros dois que foram condenados há dez anos de cadeia – assinalou.
Para ele, o inquérito que tem Áñez como alvo é semelhante a ação dos atos antidemocráticos no Supremo Tribunal Federal (STF).
– Então, o Brasil está realmente botando em prática a questão de relações internacionais, a questão de diretos humanos para ver se traz a Jeanine Áñez, oferece para ela o asilo aqui no Brasil, porque eu considero que ela ser condenada por atos antidemocrtáticos lembra muito o inquérito que está correndo aqui no Supremo Tribunal Federal. Mesmo rótulo: atos antidemocráticos. É uma injustiça com uma mulher presa na Bolívia – pontuou.
*Com informações da EFE