O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato ao Palácio do Planalto, deve evocar a liberdade de culto para responder a comentários sobre sua vinculação e de sua mulher, Janja, com religiões de matriz africana. As falas, proferidas por bolsonaristas, têm potencial de provocar desgaste de Lula junto a setores evangélicos.
Na última semana, a mulher de Jair Bolsonaro (PL), Michelle, usou a ligação do petista com religiões de matriz africana como forma de aumentar a oposição de evangélicos ao nome de Lula. O grupo político do atual presidente deve fazer outras investidas semelhantes ao longo da campanha presidencial. As informações são do Poder360.
Ainda não está claro se a associação da imagem de Lula a religiões de matriz africana fará ele perder votos entre eleitores cristãos, e nem se o discurso sobre liberdade de culto será eficaz para reparar esses possíveis danos.
Lula e Bolsonaro são os principais candidatos a presidente na eleição de outubro.
As respostas a esses movimentos, sejam elas proferidas por Lula ou por aliados, devem incluir a lei de liberdade religiosa, de 2003. Sancionado pelo petista, o texto do dispositivo diz:
“São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento”.
Na última terça-feira, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, compartilhou no Instagram um vídeo do petista em uma celebração da umbanda com as seguintes palavras: “Isso pode né! Eu falar de Deus não”.
Michelle é a principal aposta do entorno de Bolsonaro para aumentar a força do presidente junto às mulheres, em especial as evangélicas.
O vídeo também havia sido publicado pela vereadora de São Paulo Sonaira Fernandes (Republicanos). “Lula já entregou sua alma para vencer essa eleição”, escreveu ela.
A postagem de Michelle foi respondida, indiretamente, pela mulher de Lula, a socióloga Rosângela da Silva. Janja, como é conhecida, tem tido destaque na campanha do marido e escreveu o seguinte no Twitter:
“Eu aprendi que Deus é sinônimo de amor, compaixão e, sobretudo, de paz e de respeito. Não importa qual a religião e qual o credo. A minha vida e a do meu marido sempre foi e sempre será pautada por esses princípios.”
A própria Janja deverá ter a ligação com religiões de matriz africana explorada por adversários do marido. Começa a circular entre bolsonaristas foto publicada por ela no Twitter em fevereiro de 2021 junto a símbolos vinculados a esses grupos religiosos. Veja:
Lula cultiva boa relação com o movimento negro, fortemente ligado às religiões de matriz africana. Eventualmente o ex-presidente também participa de rituais indígenas.
O petista é católico e fala sobre Deus em quase todos os seus discursos. No início de agosto, um comício de Lula em Teresina (PI) terminou com o ex-governador piauiense Wellington Dias (PT) rezando o “Pai Nosso”.
Em 2018, Jair Bolsonaro foi eleito com apoio massivo dos evangélicos.
A série de pesquisas PoderData mostra que o atual presidente chegou a ficar com apenas 9 pontos percentuais de vantagem sobre o adversário nesse segmento, no meio de julho. Entre o fim daquele mês e o início de agosto, voltou a disparar.
O levantamento mais recente, divulgado em 4 de agosto, mostra Lula com 43% das intenções de voto para o 1º turno no conjunto do eleitorado. Bolsonaro tem 35%.
Quando é considerado só o estrato evangélico, Bolsonaro vai a 62%, enquanto o petista tem 22%.
Alexandre Almeida é jornalista profissional (DRT 7742/PE) e editor do portal Radar Político365. Possui experiência como ex-consultor de políticas públicas de juventude para a UNESCO e IBICT, além de ter atuado como assessor parlamentar na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
