A senadora Soraya Thronicke, candidata à Presidência da República pelo União Brasil, de fato, “vira onça” quando o assunto são perseguições, atos de corrupção e traições políticas. Entusiasta da Operação Lava Jato, conservadora e defensora declarada de bandeiras como o liberalismo econômico e o antipetismo, a representante do Mato Grosso do Sul no Senado Federal ganhou espaço nas redes sociais e no “boca a boca” dos eleitores após o primeiro debate dos presidenciáveis, ocorrido em 28 de agosto. Na ocasião, entre uma resposta e outra, ela confrontou o presidente Jair Bolsonaro (PL) por falas contra a jornalista Vera Magalhães – na ocasião, ao ser instado a comentar uma pergunta feita a Ciro Gomes (PDT) sobre queda na cobertura vacinal do país, o chefe do Executivo federal disse que a profissional da imprensa “dormia pensando nele” e era “uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. “Quando homens são tchutchucas com outros homens e com mulheres são tigrão, eu fico extremamente incomodada. Lá no meu Estado, tem mulher que vira onça. E eu sou uma delas”, declarou aos microfones, sem titubear. Desde então, Soraya Thronicke diz trabalhar para reverter o jogo eleitoral e fazer frente à polarização Lula-Bolsonaro. Se eleita à Presidência, tem como bandeira o Imposto Único Federal, a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 6.060 e o fim das contribuições previdenciárias. Também se compromete em respeitar e prezar pela harmonia das instituições e em governar com diálogo e com olhar pelos brasileiros. “Não sou amiga da onça, sou amiga do povo. Sou fiel ao povo brasileiro”, exalta. Confira abaixo os principais trechos da entrevista exclusiva ao site da Jovem Pan:
Em poucas palavras, Soraya, por que acha que é a melhor candidata para chegar à Presidência? Sou a melhor candidata porque tenho uma proposta viável. No Brasil, as pessoas estão precisando ser cuidadas. Para cuidar das pessoas, preciso cuidar da economia. Um secretário do Bill Clinton costumava falar isso. Qual é o problema da saúde? A economia. E da educação? É a economia. Qual é o problema da segurança pública? É a economia, e assim sucessivamente. Nós entendemos que, quando a economia vai bem, tudo vai bem. Aí é uma questão de gestão. Por isso, o carro chefe da nossa proposta é a área econômica. Para eu cuidar das pessoas eu preciso cuidar da economia. Então, entendo que eu sou a melhor candidata, porque tenho uma proposta econômica concreta, já estudada, madura e viável. E qual é essa proposta? O Imposto Único.
No primeiro debate entre presidenciáveis, a senhora citou a proposta de imposto único no Brasil, responsável por unir 11 tarifas atuais. Mas isso não é uma ideia nova. O seu candidato a vice, Marcos Cintra, defende esta bandeira desde 1990. Entretanto, historicamente, nenhum presidente conseguiu fazer uma reforma tributária no Brasil. O que seria diferente agora e como funcionaria? Essa proposta vem sendo estudada e analisada e amadurecida ao longo desses anos, não podemos negar que Marcos Cintra é um grande nome da economia brasileira, uma pessoa que passou 17 anos em Harvard, professor da FGV há 20 anos. É alguém que vem estudando e amadurecendo essa proposta, que não nasceu do jeito que está. Hoje, ela é apenas a substituição de tributos federais. Não é a CPMF, como alguns têm nos criticado. É a substituição de 11 tarifas por uma. Já temos isso estudado, temos outras propostas [tributárias] também, mas nenhuma é tão simples como essa. Além disso, um governo tem como se articular dentro do Congresso Nacional. Hoje, sei que não foi um ato do Congresso de dificultar [a aprovação da reforma tributária]. Bolsonaro governou por meio de Medidas Provisórias, muitas delas passaram por unanimidade. É questão de diálogo e respeito dentro do Congresso Nacional.
Os candidatos costumam dizer que os 100 primeiros dias de um governo são fundamentais. Se eleita, qual será a sua prioridade? Já chegar com a proposta do Imposto Único Federal, essa é a nossa pressa. Dentro dessa proposta, dentro do nosso plano econômico, além da substituição dos 11 impostos federais por um só, nós temos alguns apêndices importantes. Um deles é isentar do Imposto de Renda e do INSS quem ganha até cinco salários-mínimos, que dá 6.060 reais. Isso já vai, de cara, aquecer a economia, porque tudo que seria descontado vai ficar no bolso do trabalhador, que vai poder aumentar o poder de consumo. Além disso, tiraremos da carga dos empresários a contribuição previdenciária, que é de 20%. Vamos isentar todos os brasileiros da contribuição previdenciária e quem vai bancar a previdência é o Imposto Único Federal, isso é possível. Dentro da nossa substituição tributária, não vamos aumentar a arrecadação, vamos receber a mesma coisa e não vamos mexer nas remessas enviadas para Estados e municípios, então ninguém vai ser contra. A diferença é a gama de contribuintes, que vai ser praticamente 100% da população.
Outro apêndice é que vamos transformar dívida ativa de empresas em postos de trabalho. Então se a pessoa deve R$ 500 mil para o fisco, vai ter que transformar isso em empregos por tantos anos. Vai pagar a dívida fornecendo empregos para outras pessoas. Também vamos isentar todos os professores da rede pública e privada do Brasil do Imposto de Renda, o impacto disso é de cerca de R$ 10 bilhões por ano. É totalmente suportável. Então, a primeira coisa é colocar isso em prática, conversar e dialogar. É muito simples a nossa proposta de reforma. Não vai aumentar os tributos, vamos pagar imposto por depósito e por saque. Quem movimentar mais dinheiro, vai pagar mais. Quem movimenta menos, paga menos.
No Brasil, 33 milhões de pessoas não têm o que comer. Qual a sua proposta para acabar com a fome? Primeiro, sinceramente, gostaria de saber qual o número real disso. Creio que tenhamos uma subnotificação, é difícil ter transparência em números do governo. Então, o primeiro de tudo é, no período de transição, fazer uma radiografia do país. As pessoas realmente estão passando fome, isso nos preocupa. A fome não tem saída. A gente tem que manter o Auxílio [Brasil]. O Brasil suporta? Temos que administrar e colocar no essencial os nossos recursos. Será um momento de conscientização de que teremos que apertar os cintos e continuar. Temos que medir o sucesso de um governo pelo número de pessoas que conseguem sair desses auxílios, sair da dependência do Estado de forma digna. Quando vejo dois governos só falando quantas pessoas colocaram dentro de mim, eu teria vergonha. Para mim, isso é um atestado de fracasso. O meu povo tem que estar bem, não tem que estar dependendo. Mas hoje está dependendo e vamos ter que bancar de uma forma ou de outra, vamos ter que equilibrar esses pratos.
Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostra que a senhora foi beneficiada com indicações que ultrapassam R$ 95 milhões em recursos das chamadas emendas de relator. Se eleita, o que fará com as emendas do Orçamento Secreto? Chama-se de secreto tudo que não é transparente. Dentro da nossa pizza orçamentária temos emenda individual, de bancadas, de comissão, temos várias fatias. Emenda de relator é uma delas e era utilizada para o relator alinhar pequenas questões. Não tem nada de errado a RP9, errado é a forma de usar. Errado não é o Orçamento, é quem administra o Orçamento. Tem gente que dá destinação errada para emenda de execução obrigatória, faz conluio com prefeitos e governadores. Destinaram para lugares que não tem transparência? Tem que abrir isso tudo. Tem parlamentar que destinou para outro Estado que não o dele. Então, essa caixa preta tem que se abrir. Logo que a ministra Rosa Weber oficiou no Senado para que todos detalhassem as indicações, eu fui a primeira. Então o problema não está no Orçamento, está em quem faz a gestão. Não sou contra, sou contra a malversação, está na lei, está tudo certo. O problema é a criatividade para o mal. Quem não deve não teme. Não temo investigações, pode investigar. Sou favorável à autonomia da Polícia Federal, é uma das nossas propostas, porque entendo que se abandonou o combate à corrupção.
O que a senhora pensa do Ministério Público na gestão Bolsonaro? Você se compromete a escolher, se eleita, um procurador da lista tríplice ou acha que o método é apenas burocrático? Não acho que é burocracia. É primordial respeitar as instituições. O Ministério Público tem capacidade para escolher os nomes que melhor representam. Nós sabatinamos o Aras, houve no MP um desconforto muito grande de boa parte dos promotores porque eles não viram no indicado uma pessoa que os representasse. Não sou obrigada por lei, mas que tal respeitarmos? Vale a pena ser conservador neste sentido e escolherei dentro da lista tríplice.
Como a senhora avalia a gestão Aras? Ele deixa a desejar. Sabatinei ele duas vezes. Primeiro, temos questões pessoais ali, desde ministros do STF que deveriam se dar por suspeitos nas distribuições de processos, como André Mendonça. Para mim, há nitidamente suspeição por causa de amizades e entendo que o combate à corrupção está ameaçado com o Aras e com essa questão da Polícia Federal. Tem que investigar, mas opta por arquivar inquéritos. Está muito mitigado o combate à corrupção no país.
Ao longo da última semana, você disse que a “Lava Jato fez mais bem para o país do que mal”. O que você considera como os prejuízos da força-tarefa? A Lava Jato não é que fez de bem ou mal. Entendo que o combate à corrupção é muito importante. Não gosto quando culpam o ministro Sergio Moro por decisões que foram confirmadas em segundo e terceiro grau. Por que não falam de desembargadores e ministros? Por que só Sergio Moro? Se deu um deslize ou outro, não sou eu que vou apontar, não. A única questão que deve ser apontada é da incompetência territorial. Está na hora de virar essa página e vermos que a Lava Jato recuperou dinheiro, fez muito bem para o Brasil. Foi um momento em que o combate à corrupção estava no assunto do dia, começamos a ter esperança no país.
Você acredita que Sergio Moro é injustiçado? Sim. De uma maneira ou de outra, é uma perseguição que nos preocupa. Quem não deve não teme. Vimos uma situação como a de ontem, a busca e apreensão [Moro foi alvo de uma operação de busca e apreensão em razão de problemas com materiais de campanha]. Se o nome está mais ou menos [nos materiais de campanha], conserta o nome, recolhe os santinhos e toca para frente. Dá-se uma ênfase exacerbada em tudo que ele faz. Duvido muito que ele queira esconder os suplentes dele. Não foi por dolo, pode ter sido por culpa, pode ter sido por inexperiência de alguém da equipe. A gente fica dando uma ênfase que não tem enquanto os problemas do país estão passando.
Acredita que o famoso Centrão é quem governa o país? Como governar sem ceder a alianças deste grupo parlamentar? Tem muita gente do centro que é muito séria, do mesmo jeito que tem de esquerda ou de direita sem caráter. Cheguei ao Senado Federal achando que não conseguiria dialogar com a esquerda, com o centro, e o dia-a-dia me mostrou que é possível, sim. É possível articular de forma honesta, transparente, de forma respeitosa antes de qualquer coisa.
Mas o Centrão governa o país? Na minha concepção, isso é inabilidade do governo. O governo começou com uma bancada muito boa, coesa, unida e foi se desfazendo a troco de nada, por falta de respeito com os parlamentares. Não dialoga mesmo, não respeita, menospreza as pessoas, os parlamentares. Tem que ter diálogo, conversa, distribuir de forma igualitária as relatorias, permitir que todos participem. Então, faltou diálogo para governar. E faltou porque o importante não era o Brasil, era o próprio umbigo, a própria família, o projeto pessoal de poder.
Você sente que foi traída, senadora? Foi tudo uma mentira [do governo Bolsonaro]. Tudo não, estou exagerando. Mas abandonaram as pautas de combate à corrupção, liberdade econômica e perderam bons nomes. O lado liberal do governo nunca existiu, foi uma mentira, nos traíram. Me sinto decepcionada. Acreditei que o mundo fosse mudar, que teríamos cinco mil bancos como nos Estados Unidos. Traíram a pátria. É mentira, tudo é mentira. Escolhi Jair Bolsonaro em 2018 porque foi a pessoa que bateu com o nosso discurso naquele momento. Me sinto traída, decepcionada, ainda mais porque venho estudando e tenho acesso aos bastidores. Vejo as pessoas se deixando enganar, o povo brasileiro é muito bom.
O seu suplente, Rodolfo Nogueira, disse que a senhora é uma “amiga da onça” por ter traído Bolsonaro, a quem apoiou nas eleições 2018. O que te levou, de fato, a romper com o governo? Eles [Bolsonaros] são traidores da pátria. Não sou amiga da onça, sou amiga do povo. Sou fiel ao povo brasileiro e eles trabalham para si mesmos. Foi o governo que rompeu conosco. O meu norte são os princípios e bandeiras. Fomos eleitos todos em uma onda anti-PT, eu continuo nessa onda, mas o Bolsonaro é o maior cabo eleitoral do Lula. Foram as bandeiras anti-corrupção e liberal que nos uniram, cadê ele que não cumpriu? Eu continuo no mesmo partido, que virou União Brasil. Ele virou as costas para o partido, virou as costas para Luciano Bivar.
Você se arrepende de ter apoiado Bolsonaro? Não, não me arrependo porque naquele momento eu acreditei, como 57 milhões de brasileiros. Não me arrependo porque foi uma ruptura e era necessário. Mas a minha pergunta é: por que o Bolsonaro rompeu com o Brasil? Por que ele mente tanto e planta o ódio?
Depois do primeiro debate, a senhora se tornou alvo de muitos bolsonaristas nas redes sociais e chegou a responder uma provocação feita pelo senador Flávio Bolsonaro. Como se sente? Muito mal, eu me sinto muito mal. Me sinto mal e ameaçada em vários pontos. Imagine o que eu não recebo no privado.
Desde o período pré-eleitoral, a terceira via já perdeu diversos nomes, como João Doria, Luciano Hulk, Mandetta. Mas desde o princípio, Ciro Gomes sempre esteve em terceiro lugar. Não foi um equívoco não chamar o pedetista para o diálogo, dado seu capital político? Quem começou com essa história de candidatura única foi Luciano Bivar, ele tem essa característica de agregar. Ele procurou os partidos e Ciro chegou a conversar conosco, mas não houve uma proposta neste sentido, ele sempre colocou “eu vou seguir sozinho”. Nós discutimos com PSDB, MDB e Podemos, tentamos trazer o Ciro, mas ele não quis.
Senadora, há uma demanda por um nome alternativo à polarização Lula-Bolsonaro, mas as candidaturas alternativas vêm patinando. Onde a terceira via errou? Depois começou uma saga dessa candidatura para viabilizar, cada um indicaria um nome e dentro de um critério interno todos abririam mão para apoiar um único nome. Nós estávamos dispostos a abrir mão de tudo, então veio a Simone Tebet e disse que não abria mão de ser cabeça de chapa. Nós estávamos dispostos, mas ninguém queria abrir mão. Pulamos fora. A terceira via patinou porque ninguém conseguiu fazer nada. Nós abriríamos mão. Quando a gente viu que queriam mandar e não estavam dispostos dentro de um critério de decisão que fosse o mais viável. Os candidatos são os maiores cabos eleitorais, a Simone não é aceita pelo partido dela, imagina em quatro ou cinco. Então, não deu certo porque ninguém quis abrir mão.
Pesquisas apontam que o segundo turno das eleições será decidido entre Lula e Bolsonaro. Se esse cenário se confirmar, você cogita fazer campanha para a reeleição do Bolsonaro? Não cogito nada disso, eu cogito ir para o segundo turno. As pesquisas sequer apontavam meu nome em 2018 e em cinco dias eu estava eleita. As pesquisas são uma foto do momento. Eu entrei para valer, muita gente duvidou. Estou de corpo, alma, coração, colocando tudo que sei e vi para mostrar aos brasileiros um caminho. Não vou parar para olhar isso, principalmente porque o “DataOnça” mostra diferente. Sai comigo para você ver o apoio. Estou conseguindo virar voto.
Você fez críticas a ambos candidatos. Mas o que seria pior: a continuidade do governo Bolsonaro ou a volta do Partido dos Trabalhadores? Temos que trocar o presidente da República e colocar a Soraya Thronicke.
*Radar Político365 com informações da Jovem Pan.
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