O Conselho de Segurança da ONU rejeitou nesta quarta-feira, 03, uma resolução apresentada pela Rússia para iniciar uma investigação internacional sobre um suposto programa de armas biológicas que Moscou afirma que a Ucrânia desenvolveu com o apoio dos Estados Unidos. O texto russo só foi apoiado pela China, motivo pelo qual, com dois votos a favor, ficou muito aquém do mínimo de nove necessários para aprovar uma resolução neste órgão.
EUA, França e Reino Unido votaram contra a proposta, enquanto os outros dez membros do Conselho de Segurança – todos membros não permanentes – se abstiveram. Pouco depois do início da invasão à Ucrânia, a Rússia alegou ter descoberto provas de um programa biológico no país em cooperação com os EUA e, nos últimos meses, levou repetidamente o assunto ao Conselho de Segurança da ONU.
Tanto a Ucrânia como os EUA negaram fortemente estas acusações e, juntamente com outros países, acusaram a Rússia de estar tentando desviar a atenção dos seus ataques. Ucrânia e EUA insistem que os supostos laboratórios militares que a Rússia tem denunciado não passam de instalações de pesquisas de vírus e doenças, enquanto a própria ONU tem repetidamente afirmado não ter qualquer registro desse suposto desenvolvimento de armas biológicas.
A resolução proposta pela Rússia e rejeitada nesta quarta-feira buscou criar uma comissão de todos os membros do Conselho de Segurança para investigar supostas violações da Convenção das Nações Unidas sobre Armas Biológicas por parte da Ucrânia e dos EUA.
A embaixadora americana, Linda Thomas-Greenfield, defendeu o pleno cumprimento dessa Convenção pelo seu país, disse que os EUA negaram as alegações “ponto a ponto” e argumentou que toda a iniciativa russa fazia parte de uma campanha de desinformação. “As perguntas russas não são sinceras e a Rússia não está interessada nas nossas respostas”, disse Thomas-Greenfield, notando que o resultado da votação mostra que o mundo não acredita nos argumentos do Kremlin. O vice-embaixador russo, Dmitry Polyanskiy, acusou as potências ocidentais de fazer descarrilar as negociações sobre a resolução e de ter “medo” do estabelecimento da comissão de inquérito, e disse que continuaria a levantar a questão na ONU.
Entre os países que se abstiveram, o México explicou, por exemplo, que por uma questão de princípio não se opõe a tal investigação no âmbito da Convenção sobre Armas Biológicas, mas considerou que neste caso a Rússia não forneceu provas suficientes para justificar a medida. Além disso, a delegação mexicana destacou que a Rússia não deveria participar na investigação como uma das partes envolvidas no conflito, ao contrário da proposta de Moscou de que a comissão fosse composta por todos os membros do Conselho, o que lhe daria a capacidade de controlá-la.
JP