Depois de receber a faixa presidencial de uma mulher negra, Lula mostrou um discurso capaz de analisar as mudanças do Brasil sem tornar a agenda de combate às desigualdades obsoleta. No pronunciamento que costurou democracia, diversidade e uma economia favorável ao equilíbrio social, o presidente reafirmou a experiência adquirida como protagonista da história recente do país no momento em que herda o Brasil com os mesmos problemas – e em alguns casos até mais aprofundados – de 2003.
A travessia entre os processos de transformação do país ao longo das últimas décadas forjou um político que conseguiu identificar as novas reivindicações da atual conjuntura sem deixar de lado as demandas que já eram cobradas no seu primeiro mandato. Com a faixa recebida em um gesto de representatividade, o presidente se emocionou quando mencionou o agravamento da fome.
“Ele traz isso muito fortemente. Essa carga no seu discurso do que é o Brasil real. Acho que isso não mudou, acho que Lula aprimorou sua capacidade de pensar o Brasil sob a ótica das questões sociais. Então, ele traz muito fortemente em seu discurso essa questão da desigualdade em todas das suas vertentes, a desigualdade de gênero, a questão dos povos originários, a questão racial e sobretudo a desigualdade econômica”, observou a cientista política Priscila Lapa.
O Estado e a democracia como soluções para o Brasil
Em um 2023 repleto de diferenças, o recorte de 20 anos não foi suficiente para evitar a continuidades de algumas chagas sociais do início do seu primeiro mandato. A agenda histórica do PT precisou ser mais uma vez evidenciada, mas a nova dinâmica econômica também foi absolvida em seu discurso contra a disparidade econômica.
“Ele traz essa carga como sendo o norte valorativo sobre o qual toda a sua atuação política ganha sentido. Isso não muda, isso aprimora e ganha notoriedade nesse terceiro mandato”, pontuou a estudiosa.
Ao mesmo tempo que Lula falou sobre a influência do Estado na Economia, também falou sobre a liberdade do empreendedor sem que esse Estado seja um empecilho. Apesar de uma postura mais flexível, o Mercado não teria recebido bem a declaração. “Ele chegou a falar desse tom, mas trazendo alguns aspectos que são muito caros na agenda do PT, como privatizações e outras questões das quais o partido parece não abrir mão mesmo com toda a mudança no contexto. Ele traz o Estado como o indutor desse desenvolvimento”, avaliou Priscila.
O aceno institucional ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal também mostra sua intenção de construir soluções para o país através do fortalecimento da democracia – pauta deteriorada ao longo do governo anterior. “Quando ele faz isso, ele tenta mostrar um Governo de composição, de entendimento, de alinhamento, mais do que um Governo que tem a agenda pronta e acabada”, complementou.
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