Uma pesquisa realizada por sociólogas de universidades nos Estados Unidos concluiu que a Disney ainda tem recorrido a esteriótipos para retratar pessoas com deficiência. De acordo com o estudo, a maioria dos desenhos produzidos no período de 2008 a 2018 representou o grupo em contextos envolvendo maldade, pena e piada.
Na análise, produzida por Jeanne Holcomb, da Universidade de Dayton, e Kenzie Latham-Mintus, da Universidade de Indiana, foram observados os personagens de 20 filmes da empresa. O reconhecimento das deficiências foi feito a partir de traços visíveis, como uso de cadeira de rodas, ou reconhecíveis nos diálogos.
As pesquisadoras classificaram as representações de deficiência dos personagens em cinco categorias – contexto de maldade ou velhice, pena, superação, piada e positivo. Na aparição de deficiência mais recorrente nas obras analisadas, com 12 ocasiões, o traço aparecia como sinal de maldade ou velhice.
Um dos exemplos citados pelas sociólogas é do vilão Lotso, um urso de pelúcia que usa uma bengala no filme Toy Story 3, de 2010. Um outro caso de deficiência como sinal da maldade é de um membro de um bando de ladrões do filme Enrolados, também de 2010, que usa um gancho de metal no lugar da mão.
Em 11 ocasiões, os personagens com deficiência são retratados em situações ligadas a sentimentos de pena e superação. No filme Procurando Dory, lançado em 2016, quando a protagonista repete falas sem perceber – ela tem perda de memória de curto prazo -, outros peixes lamentam entre si a “horrível” condição dela.
Já em nove situações, a diversidade intelectual e física é retrada como se fosse cômica. Geraldo, um dos leões-marinhos de Procurando Dory, tem aparência descuidada, com olhos arregalados sem foco e sobrancelhas grossas. A forma como ele ainda e ri de um jeito diferente é tratada com desdém por outros personagens.
No total, de acordo com a pesquisa, apenas três personagens das 20 animações analisadas foram representadas de forma positiva, como o rei Fergus, do filme Valente, lançado em 2012. O monarca é retratado como poderoso e independente, e o fato de não ter uma perna é visto apenas como uma característica.
Ao jornal Folha de São Paulo, Jeanne Holcomb, uma das responsáveis pela pesquisa, disse que os estereótipos negativos usados nos filmes se entranharam tanto na cultura que é difícil perceber a presença deles. Ela destacou a influência que os desenhos têm na forma como as atitudes das crianças são moldadas.
– A mídia infantil tem o potencial de moldar positivamente as percepções e atitudes das crianças sobre pessoas com deficiência – ressalta.
Questionada pelo jornal Folha de São Paulo sobre quais atitudes vêm tomando para retratar pessoas com deficiência em animações de forma equilibrada, a Disney afirmou que não iria se manifestar.