A Praça da Bandeira, situada no centro da cidade de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR), parece com tantas outras do Brasil, com árvores, canteiros e uma mureta de cimento para sentar e descansar. Em 31 de março de 1983, contudo, aquele pequeno quadrilátero cercado por uma escola pública e um posto de saúde presenciou um evento decisivo para a história recente do Brasil. Ali ocorreu aquele que é considerado o primeiro ato de rua em defesa das eleições diretas para presidente do Brasil durante a Ditadura Militar.
Cerca de cem pessoas, tais como operários, eletricistas, estudantes, alfaiates e políticos, davam o primeiro grito em defesa da Democracia. Entre os participantes estava o jovem goianense e participante ativo da política local tendo inclusive conquistado a primeira suplência de vereador da Câmara de Abreu, Aguinaldo Fenelon. Na companhia de Fenelon estavam os ex-vereadores Severino Farias, Reginaldo Silva, José da Silva Brito e Antônio Amaro Cavalcante, além de Manoel Braz, eletricista e Luiz Alfaiate.
Fenelon ressaltou a importância daquele movimento que não sabiam, mas que seria o início de uma onda que varreu o país tempo depois. “A gente fazia política por um ideal, nossa bandeira era o restabelecimento da democracia”, lembra o procurador de Justiça, Aguinaldo Fenelon, que por dois mandatos comandou o Ministério Público de Pernambuco (MPPE).
Aguinaldo destaca, ainda, que o regime através do coronel Clidenor de Moura Lima, diretor do SNI em Pernambuco, e seus agentes o monitorava ao lado de outras figuras que mais tarde se tornaram conhecidas no cenário do estado a exemplo do ex-prefeito do Recife, João da Costa, deputado federal Renildo Calheiros, do advogado e professor Jayme Benvenuto, do advogado e empresário Maurício Rands, do médico e cineasta Wilson Freire, e do jornalista Vandeck Santiago, atual editor-executivo do Diário de Pernambuco.
As Diretas Já iniciada em Abreu e Lima recebeu também o reconhecimento do estudioso e promotor José Soares, entusiasta do movimento que por onde passa destaca a importância daquela ação em defesa da democracia.
A hora da virada para a democracia brasileira, no entanto, ainda levaria alguns anos para chegar. Apenas 18 dias depois do ato em Abreu e Lima, o deputado federal Dante de Oliveira, do PMDB de Mato Grosso, protocolou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 5, que propunha o estabelecimento de eleições diretas para presidente e vice. Inicialmente desacreditada, a proposta ganhou força com a eclosão da campanha das Diretas Já, um dos maiores movimentos populares da história do Brasil.
As Diretas Já levaram milhões de pessoas às ruas em defesa do direito de votar para presidente. Reuniu artistas famosos e algumas das mais influentes lideranças do País, como o presidente Lula e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 25 de abril de 1984, todavia, a proposta não obteve o apoio necessário no Plenário da Câmara dos Deputados. Foi rejeitada com 289 votos a favor, 65 contra e 113 ausentes. O Brasil só voltaria a escolher o presidente em 1989, quando Fernando Collor venceu o pleito.
Para celebrar a data, o Ministério Público de Pernambuco, Governo do Estado, Assembleia Legislativa, Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano e a Ordem dos Advogados do Brasil celebram nesta sexta, 31, por volta das 10h, no Memorial da Democracia, no Recife, os 40 anos do primeiro ato público do Movimento das Diretas Já.
Radar Político365 com informações da assessoria da Alepe