Neste sábado (23), o papa Francisco e o presidente da França, Emmanuel Macron, se reuniram brevemente após o encerramento dos Encontros Mediterrâneos em Marselha. O encontro ocorreu no âmbito de uma visita durante a qual o pontífice aproveitou para enviar uma mensagem crítica à gestão europeia da crise migratória.
Embora Francisco tenha procurado não fazer da sua viagem uma visita de Estado à França, Macron e o pontífice tiveram a oportunidade de conversar durante 32 minutos a portas fechadas. A primeira-dama, Brigitte Macron, se juntou a eles depois.
O encontro aconteceu em uma sala com vista para o mar do Palais du Pharo, sede principal dos Encontros Mediterrâneos, após a cerimônia de encerramento que aconteceu no auditório principal.
Os dois apertaram as mãos carinhosamente e posaram juntos, mas o conteúdo da conversa não foi divulgado.
– Por Marselha, por nosso país, orgulho de receber Sua Santidade o papa Francisco por ocasião dos Encontros Mediterrâneos – escreveu Macron em uma mensagem no X juntamente com uma foto em que os dois apertam as mãos.
Macron e Francisco discutiram questões como a situação na África, a guerra na Ucrânia e o conflito em Nagorno-Karabakh, segundo indicaram mais tarde fontes do Palácio do Eliseu, descrevendo a conversa como “muito animada”.
Tendo a recepção dos imigrantes na Europa como tema principal desta visita papal, o presidente francês explicou ao pontífice que a França “fará sua parte” para aliviar a situação e combater os traficantes de pessoas.
Além disso, falou em termos gerais sobre a lei de imigração que seu governo está preparando.
O presidente francês também entregou ao papa dois livros: Ex-voto marins de Notre-Dame-de-la-Garde, de Félix Reynaud, um trabalho de investigação sobre milhares de oferendas feitas ao considerado guardião dos marinheiros; e uma edição original de O Verão, de Albert Camus.
Por sua vez, Francisco presenteou Macron com uma medalha de ouro do Pontificado.
POLÊMICAS: SECULARISMO, EUTANÁSIA E IMIGRAÇÃO
A participação de Macron na missa que Francisco celebrará esta tarde no estádio Velodrome – perante cerca de 60 mil fiéis – rendeu-lhe inúmeras críticas, especialmente da oposição esquerdista da França Insubmissa (LFI).
O Palácio do Eliseu confirmou a presença do presidente e da primeira-dama depois de algumas semanas marcadas pela polêmica que surgiu em torno da proibição das abayas – vestido longo que cobre da cabeça aos pés – nas escolas públicas.
A medida foi aprovada pelo governo pouco antes do início do ano letivo na França em nome do “secularismo” republicano, por considerar que a vestimenta era um sinal de identificação das mulheres muçulmanas.
Esta defesa do secularismo não exclui, no entanto, a manutenção de “relações com todos os cultos, incluindo o católico”, segundo argumentaram fontes do Eliseu em resposta às críticas, além de destacar que Macron “assistirá à missa, mas não como crente”.
Essa não foi a única questão espinhosa para o governo francês, que há meses prepara um projeto de lei sobre a eutanásia. O texto seria apresentado no Conselho de Ministros da última quinta-feira (21) – um dia antes da chegada do papa a Marselha –, mas foi adiado devido a necessidades do calendário de trabalho.
A imprensa francesa, no entanto, associou este adiamento à visita do pontífice, que no seu discurso de hoje no encerramento dos Encontros Mediterrâneos alertou contra “a perspectiva falsamente digna de uma morte doce”.
Além disso, nesta viagem, Francisco procurou enfatizar sua condenação à tragédia migratória no Mediterrâneo, que voltou a intensificar-se neste ano com mais de duas mil mortes registradas até agora, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Nesse contexto, a ilha italiana de Lampedusa registrou nos últimos dias um forte fluxo de chegadas.
Também presente hoje no Palais du Pharo para ouvir o papa no encerramento dos Encontros Mediterrâneos, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, foi rápido em dizer sobre as chegadas a Lampedusa que seu país não iria acolher estes imigrantes.
– Quem arrisca a vida no mar não invade, procura abrigo – alertou Francisco, muito crítico à falta de solidariedade europeia.
A viagem do papa a Marselha terminará esta tarde com a missa e Macron também ficará encarregado de se despedir de Francisco no aeroporto.
*EFE