A Bolsa brasileira fechou em queda de 0,44%, nesta segunda-feira (17), aos 119.137 pontos, com investidores de olho na nova decisão sobre a taxa de juros do país e no cenário fiscal, que ainda gera cautela no mercado. Já o dólar encerrou em alta de 0,73%, cotado a R$ 5,421 —seu maior valor desde 4 de janeiro de 2023, início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando fechou a R$ 5,451.
Com incertezas domésticas persistentes no radar, o mercado engatou a semana de olho na quarta-feira (19), quando será divulgada a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) sobre o patamar da taxa básica de juros do Brasil, a Selic.
A expectativa é que o colegiado decida, por unanimidade, manter a taxa no atual nível de 10,50% ao ano. Na visão de analistas ouvidos pela Folha, um novo racha entre os membros do colegiado, como ocorreu em maio, provocaria mais ruído no mercado e colocaria a credibilidade do BC na mira. Por isso, a previsão é de uma votação sem divergências e um comunicado mais coeso.
A manutenção da taxa Selic em 10,50% foi também prevista pelo boletim Focus: agora, economistas consultados pelo BC esperam que não haja mais nenhum corte nos juros até o final do ano. A projeção é 0,25 ponto percentual maior do que projetada no último ajuste de expectativas, após duas semanas sem alterações.
As análises levam em conta a deterioração das expectativas de inflação, a depreciação do real frente ao dólar, a percepção de maior risco fiscal e a incerteza externa, além da atividade econômica resiliente.
Nas últimas semanas, a pressão para o governo cortar gastos cresceu, conforme investidores perdiam confiança no compromisso do governo com o equilíbrio nas contas públicas. O risco de mudança das regras do arcabouço fiscal para acomodar o crescimento das despesas obrigatórias entrou no radar após encontro do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia 7 de junho, com representantes de instituições financeiras.
Após a reunião, rumores sobre uma possível mudança no arcabouço fiscal passaram a circular, o que levou à disparada do dólar diante de temores sobre a situação fiscal do Brasil.
A rejeição pelo Congresso da MP (medida provisória) restringindo o uso de créditos do PIS/Cofins para financiar a desoneração da folha de pagamento das empresas de 17 setores e municípios elevou o pessimismo. A derrota gerou preocupação no mercado sobre um possível enfraquecimento de Haddad no governo.
À luz da necessidade de cortar gastos, o presidente Lula participou, nesta segunda, da reunião da JEO (Junta de Execução Orçamentária), colegiado de ministros responsável pelas decisões de política fiscal e orçamentárias do governo. Esta não foi a primeira vez que ele participa desse tipo de reunião, mas sua presença é rara.
Nesta segunda, ainda houve pressão vinda de dados mais fracos da economia chinesa. A produção industrial de maio do país asiático ficou aquém das expectativas e a crise no setor imobiliário não mostrou sinais de abrandamento, pressionando o minério de ferro.
Folha de S. Paulo