Graça Carrazzoni (MDB) é a prefeita mais velha entre todas as mulheres que administram cidades no Brasil. Aos 85 anos, a chefe do Executivo de Itambé, no interior de Pernambuco, a 92 km do Recife, faz parte de um grupo político familiar tradicional da zona da mata norte do estado.
Itambé tem quase 35 mil habitantes, segundo o Censo de 2022 do IBGE, e fica na divisa com a Paraíba. Um limite que praticamente não se vê aos olhos, já que há ruas em que um lado da calçada é Itambé e do outro, Pedras de Fogo (PB). As duas cidades convivem de forma integrada e possuem atividades econômicas ligadas.
Do lado pernambucano, a prefeita Graça — a primeira a governar Itambé — vai de segunda a sexta-feira à prefeitura, onde costuma atender cerca de 15 populares por dia no seu gabinete. A reportagem flagrou pessoas que chegavam ao local com demandas sobre serviços de saúde e assistência social da cidade.
Ao lado da prefeita, a filha Ângela, que diz não ter vontade de ir para a política e é engenheira do quadro de servidores da prefeitura, ajuda Graça com as demandas diárias no seu gabinete. A gestora é conhecida popularmente como Dona Graça.
A idade não é problema, na visão de Graça. Para ela, os 85 anos de idade representam uma experiência para ajudar a governar Itambé. “Nem pensei em idade, a minha mente é a mesma. A idade ajuda. Acho que sou a mesma pessoa de 20 anos atrás”.
A prefeita afirmou que achou errada a pressão sobre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para que ele desistisse da candidatura à reeleição. Aos 81 anos, ele abdicou da candidatura ontem após ser alvo de questionamentos, inclusive de aliados, sobre a viabilidade da sua postulação em idade avançada.
“Acho um erro. Se ele tem a mentalidade sadia, e hoje com a medicina com tudo, cada um sabe quem é, e o povo também sabe. Vejo normalmente”, disse a prefeita, antes de a decisão de Biden se concretizar.
No Brasil, o prefeito mais velho hoje é Silvestre José Gorini, 92, de Varre-Sai (RJ).
Graça Carrazzoni afirma que há machismo na política, porém, relata não ter se sentido vítima de algum episódio do tipo durante a trajetória política. “Não recebi nada contra, recebi aplausos”.
O marido de Graça foi prefeito de Itambé por seis mandatos. Fred Carrazzoni morreu em abril deste ano na cidade. Em parte dos governos do marido, Graça exerceu o cargo de secretária municipal de Ação Social.
Natural de Alagoinha, no agreste, Graça chegou a Itambé após fazer provas de um concurso para professora da rede estadual, nos anos 1960. Aprovada no certame realizado no Recife, ela foi para a cidade onde reside até hoje e onde conheceu o marido.
Ao lado de Fred, Graça participava de campanhas eleitorais pedindo votos para o marido. Em 2016, ele se lançou candidato a prefeito, mas depois retirou a postulação em meio a imbróglios com a Justiça que inviabilizaram sua candidatura. A escolha foi lançar Graça no lugar dele para prefeita.
“Ele ficou preocupado sobre quem seria o nome do grupo. Ele disse: ‘Graça, você vai ser a candidata’. O povo estava pedindo. Eu disse que iria e para ganhar. O povo me aceitou. Ele [Fred] que me ajudou, mas o povo já me conhecia”, conta.
“Ele participava [da gestão], mas me deixou livre. Aprendi com ele, que tinha o sangue de política”, diz Graça, que foi reeleita em 2020.
O pai de Fred Carrazzoni e sogro da prefeita Graça também já foi prefeito de Itambé. A gestora com idade mais avançada dentre as prefeitas brasileiras também exerceu antes um mandato de vereadora do município itambeense.
Para 2024, o clã vai lançar Frederico Carrazzoni (MDB), atual vereador, como candidato à sucessão de Graça. Ele é sobrinho do ex-prefeito Fred, que foi casado com a prefeita por mais de 60 anos.
Desde 1969, quando Fred assumiu pela primeira vez como prefeito, a família esteve no poder por 34 anos (26 anos de mandatos de Fred e 8 das gestões de Graça).
Crítica do PT, Graça avalia que o presidente Lula não faz um bom governo. Em 2022, fez campanha para Jair Bolsonaro (PL), um raro feito para prefeitos no interior de Pernambuco, onde o PT costuma ser soberano em eleições presidenciais.
“Simpatizei e vi a mentalidade dele. Achei muito boa para que ele fosse o presidente”, diz.
“Lula foi presidente, teve passado, acreditaram muito no que ele disse que iria realizar. Ele não fez nada do que prometeu [no outro mandato]. Acho que ele está indo [agora] no caminho errado. Gostaria que ele realizasse tudo que ele prometeu fazer para o povo, que está sofrendo”, afirma.
A prefeita diz que não apoiará Lula em eventual candidatura dele em 2026: “Voto não”.
Sem entrar em detalhes, ela diz que Bolsonaro tem sido injustiçado pela Justiça Eleitoral. O ex-presidente está inelegível até 2030. “Acho que tem muita coisa que foi errada”.
Para 2026, Graça defende que Bolsonaro apoie um nome que esteja apto a disputar as eleições. “Deveria ser outra pessoa que [se ganhar] assumisse”, afirma.
Da Folha de São Paulo.
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