O misterioso assassinato de Brian Thompson, CEO de uma das maiores seguradoras de saúde dos Estados Unidos, a UnitedHealthcare, surpreendeu o país norte-americano no último dia 4 de dezembro. Na ocasião, o empresário foi atingido por um tiro no peito por volta das 6h45 da manhã, em plena Sexta Avenida, em Nova Iorque.
Na última segunda-feira (9), a polícia prendeu um jovem de 26 anos suspeito de cometer o crime. Trata-se de Luigi Mangione, mestre em ciência da computação, considerado um “gênio da tecnologia” e anticapitalista.
Por que um jovem tido como tão inteligente e sem passagens pela polícia se tornou o principal suspeito do caso?
QUEM É LUIGI MANGIONE?
Mangione nasceu na cidade de Baltimore, no estado de Maryland, em uma família proeminente, dona de diversos negócios na região, incluindo um clube de campo e casas de repouso. Ele estudou em uma escola particular voltada apenas para meninos, a Gilman School, e desde cedo se destacou como aluno, tendo sido orador da turma.
Na juventude, Mangione se graduou e fez mestrado em ciência da computação em uma instituição de elite: a Universidade da Pensilvânia. Na faculdade, ele fundou um clube de desenvolvimento de videogames, e era considerado uma pessoa “supernormal”, segundo relatou um amigo que estudou com ele à BBC.
Primo do parlamentar estadual Nino Mangione, o rapaz ainda estagiou como programador na desenvolvedora de videogames Fixarixis, e trabalhou como engenheiro de dados para a TrueCar, site de varejo digital para carros novos e usados.
COMO ELE FOI LIGADO AO CRIME?
De acordo com testemunhas do homicídio, depois do assassinato, o atirador escapou a pé para o leste da Sexta Avenida, subiu em uma bicicleta e pedalou até o Central Park. Na ocasião, ele usava uma jaqueta, uma máscara facial preta e portava uma mochila cinza.
Mangione foi detido nesta segunda, em uma unidade do McDonald’s na Pensilvânia, a 375 quilômetros de onde o crime foi cometido. Na ocasião, um funcionário da rede de fast-food considerou o jovem parecido com fotos do suspeito que vinham sendo divulgadas desde o acontecimento do crime. Desconfiado, o trabalhador ligou para o 911, número da polícia dos EUA.
Quando os agentes chegaram ao restaurante, encontraram Mangione usando uma máscara e um gorro, com roupas compatíveis com as do atirador. Ele estava sentado diante de um laptop com uma mochila ao lado. Ao ser abordado pelos policiais, o jovem mostrou uma carteira de motorista falsa, no nome de Mark Rosario. A polícia fez buscas pela identidade, e não encontrou nenhum registro.
Os agentes, então, algemaram o rapaz e revistaram sua mochila, onde acharam uma pistola e um silenciador. A arma atirava munições de 9 milímetros, igual as que mataram Brian Thompson.
Questionado se ele esteve em Nova Iorque recentemente, Mangione teria ficado em silêncio e começado a tremer. Ele acabou sendo preso por porte de arma de fogo e identidade falsa. Ao verificarem o documento falso, os agentes constataram que o documento que o jovem apresentou era o mesmo que o suspeito pelo assassinato usou para fazer check-in em um albergue em Nova Iorque antes do crime.
QUAL SERIA A MOTIVAÇÃO DO HOMICÍDIO?
A polícia detalha que o rapaz carregava consigo um manuscrito de três páginas com reclamações sobre o sistema de saúde dos Estados Unidos. Uma fonte do New York Post afirma que o jovem detestava a comunidade médica devido à maneira como seus parentes eram tratados em unidades de saúde.
Isso porque, nos Estados Unidos, não há um sistema universal de saúde. Esse serviço é oferecido por empresas que, muitas das vezes, se recusam a cobrir cirurgias, remédios e até mesmo anestesias. A UnitedHealthcare, seguradora de saúde administrada por Thompson, é a que mais nega pedidos de seus pacientes. Segundo a Forbes e o Boston Globe, a seguradora nega 32% das solicitações, enquanto a média nacional é de 16%.
Nas redes sociais, um perfil com o mesmo nome de Mangione na conta Goodreads chamou a atenção dos investigadores. Na plataforma de resenha de livros, o usuário deu quatro estrelas a um texto escrito por Theodore Kaczynski, o Unabomber – o homem que causou bombardeios que mataram três pessoas e feriram dezenas a partir de 1978 nos EUA.
Na resenha sobre o manifesto de Unabomber, o usuário Mangione escreveu “quando todas as outras formas de comunicação falham, a violência é necessária para sobreviver. Você pode não gostar de seus métodos, mas para ver as coisas da perspectiva dele, não é terrorismo, é guerra e revolução. ‘A violência nunca resolveu nada’ é uma declaração proferida por covardes e predadores”. O usuário ainda criticou as grandes empresas que “não ligam para você, seus filhos ou seus netos”. De acordo com a polícia, um documento escrito por Mangione indica que ele parece ter alguma indisposição em relação à América corporativa”.
Mangione foi encaminhado ao tribunal, onde sua fiança foi negada. Em audiência na tarde desta terça-feira (10), ele chegou ao Tribunal do Condado de Blair aos gritos, e disse que as acusações contra ele são “extremamente fora de contexto e um insulto à inteligência do povo americano”.
Fonte: Pleno News.