Carolina Dieckmann revelou que viveu um período muito difícil com a sua mãe, logo a pós a separação dos pais. Maíra Dieckmann, que morreu em 2019, passou dez anos bebendo para esquecer a dor de amor.
Carol se lembra da mãe deitada numa cama, triste e frágil, com o copo de uísque ao lado.
Em entrevista ao videocast “Conversa vai, conversa vem”, no ar no Youtube do Jornal O Globo, a atriz revisitou essas memórias dolorosas e contou como emprestou essa experiência à personagem que interpreta no filme ainda inédito “Descontrole”, dirigido por Rosane Svartman. Leia abaixo:
Em “Descontrole”, filme da Rosane Svartman, você vive outra personagem desafiadora. Uma escritora bem sucedida, também mãe de dois filhos, que entra em crise no casamento, se separa e cai na vida, quer dizer, no álcool ou no sexo, na doideira…
Ela tem uma recaída, e a gente entende que ela que é uma alcoólica. A vida dela está louca.
Não está tá dando conta de nada: do casamento; de entregar livro; os filhos querendo atenção. Enfim… Ela se separa do cara, resolve viver a vida e volta a beber. Aí, não lembra de nada no dia seguinte, aquilo começa e ela vai ao inferno.
A Rosane me falou que ficou muito impressionada com a sua entrega. Como é que foi a preparação? Frequentou reuniões do AA? O que trouxe de referência pessoal?
Alcoolismo, para mim, já era um assunto muito de dentro. Minha mãe… teve uma época… Quando ela se separou do meu pai, minha casa pegou fogo, aconteceu um monte de coisa.
Eles se separaram, e minha mãe ficou 10 anos bebendo, emburacada, e a gente entendendo que, talvez, ela fosse alcoólatra, palavra que a gente usava antigamente. Ela deitada numa cama, muito triste, frágil. Um belo dia ela levantou, falou que ia parar de beber e de fumar e nunca mais. Sem frequentar nada.
Entendemos, depois, que, talvez, ela não fosse alcóolica, porque depois a voltou a beber só socialmente. Então, ela realmente escolheu se a anestesiar através do álcool e ficou 10 anos num buraco. Tenho uma visão do que o álcool faz num lugar muito íntimo.
De eu ter 10, 11 anos, estar me descobrindo mulher e ver aquela mulher, que era minha super mulher, deitada numa cama, sofrendo por amor, sem conseguir levantar. Eu tinha isso para dar para à personagem. Sou uma criança que já estive no banco de trás e minha mãe bateu com o carro.
O processo do filme te deu gatilho?
Chorei muito e me curei muito. Tive momentos no set em que eu saía e falava:
“Caramba, mãe, tô me curando aqui. Tô entendendo uma parada que não tinha como entender mais nova”. Me curei não através da palavra, mas do que conseguir acessar dentro. É diferente quando você entra num estado de paz interno que não tem a ver com o que fala ou elabora, mas com que sente. Esse filme foi muito importante para mim.
A relação da sua mãe com a bebida influenciou no fato de você só ter começado a beber mais tarde, aos 30 anos?
Com certeza. Uísque eu não podia beber, porque tem o cheiro… Só consegui beber uísque depois que ela morreu (em 2019). Fica aquela imagem da minha mãe deitada, o copo de uísque e o aroma.
Dar um beijo nela e sentir aquele cheiro. Sentia o cheiro e já me dava reflexo no corpo, vontade de chorar. Comecei a beber tarde porque tinha esse medo também: Será que beber significa chegar onde a minha mãe chegou?
Acha que está tendo oportunidade de mostrar outros registros como atriz para além do lugar da mocinha bonita em que esteve em tantos trabalhos?
Com certeza. Não tem outro jeito de amadurecer. Quem trabalha com atuação está sendo reflexo do que consegue acessar, do que te atravessa e comove. Então, é estar atento a isso.
Essas mulheres que eu fiz agora estão a serviço de outra Carolina, que está atenta a sentir as coisas e aproveitar o tempo, que é infalível e democrático.
Ele passa para todo mundo e temos que ir com ele, pegar o que é bom. Agarrá-lo, trazer para junto, nutri-lo, aproveitar, ficar amiga dele.
Estou vivendo pela minha mãe, pelos que não estão aqui, por quem está acamado, pela Preta, por tudo que está em mim. Ficar na guerra contra o tempo é muito bobo.
Fonte: Folha de Pernambuco./Foto: Divulgação.