Em coletiva de imprensa realizada nos Aflitos, o presidente do Náutico, Bruno Becker, e Roberto Pimentel, assessor de assuntos jurídicos sobre a Sociedade Anônima de Futebol (SAF), oficializaram a desistência do Consórcio Timbu de continuar com a proposta vinculante de adquirir 90% das ações alvirrubras. Os pernambucanos seguem no mercado em busca de novos investidores, não descartando a possibilidade de ser constituída inicialmente uma SAF do próprio clube.
Proposta
“Logo depois da eleição de Bruno, eu era do Conselho Deliberativo, participando da Comissão de Legislação. Naquela época, fiz essa proposta ao presidente Alexandre Carneiro para criar a estrutura jurídica de uma SAF 100% do Náutico. Primeiro é preciso constituir, transferir os ativos de futebol ao clube para depois alienar as ações. No caso da proposta do Consórcio Timbu, era 90%, mas também pode ser menos”, iniciou Pimentel.
“A proposição não avançou porque era final de gestão do antigo Conselho. Era prudente esperar a constituição de um novo. Esse tema já está pronto para ser feito. Temos a estrutura jurídica para fazer. Pode ser um caminho que se avance independentemente de propostas. Podemos estabelecer os mecanismos para, quando o investidor chegar, já ter esse passo dado. É possível que isso aconteça e estamos conversando com o Conselho neste sentido”, completou.
O modelo citado pelo assessor jurídico seria semelhante ao feito pelo Fortaleza. O clube associativo é dono de 100% das ações da SAF Tricolor. Os cearenses sinalizaram que pretendem, em princípio, negociar de 15% a 20% das ações.
“O clube tem um valor material e imaterial. A gente está no mercado há dois anos e meio e é perceptível que o Náutico é um produto que interessa ao mercado. O que atrapalha é a realidade de dívida. Óbvio que o fato de estar na Série C não é o ideal, mas também uma oportunidade para o investidor, porque ele tem uma possibilidade de alavancagem muito mais rápido. Basta botar o clube na Série B”, observou o assessor.
Desistência
Na coletiva, Becker leu a carta enviada por Fransérgio Bastos, CEO da agência de marketing esportivo Flashforward Group, que estava à frente das negociações, explicando os motivos da desistência.
No texto, é dito pelos investidores que a “necessidade de alterações estruturais substanciais na proposta originalmente apresentada inviabiliza a manutenção do formato atual (da proposta)” e que “determinados aspectos notadamente relacionados à dívida e ao patrimônio do clube demandam um tratamento prévio e específico como condição essencial para que um projeto concreto de SAF possa prosperar de forma sólida e sustentável”.
Uma das principais divergências entre clube e investidores girou em torno do desejo do Consórcio de ser proprietário de parte do terreno (47,48 hectares) do Centro de Treinamento Wilson Campos, na Guabiraba, Zona Norte do Recife. Outro era o volume de investimentos para os 10 anos, sem detalhamento sobre o quanto seria repassado nos anos iniciais.
O Náutico, porém, não descarta a retomada do diálogo entre as partes no futuro, com outra proposta em formato diferente, e que as discussões para transformar o clube em SAF continuarão ocorrendo.
“Essa proposta foi retirada, assim como outras propostas em um passado recente, em estágios anteriores. Estamos amadurecendo o tema e hoje não se vê vozes dissonantes sobre a SAF. Hoje existe praticamente um consenso de que o caminho é inevitável para o futuro. Essa etapa, desta proposta, se encerra, mas sem prejuízo. O clube seguirá no mercado trabalhando para fazer a SAF. O Náutico já sabe o que quer e o que precisa. A tendência é as próximas negociações evoluírem em um prazo mais curto”, pontuou Becker.
Carta enviada pelo Consórcio Timbu ao Náutico
Prezado presidente Bruno,
Inicialmente, apresentamos nossas sinceras desculpas pelo atraso da presente manifestação. Considerada a complexidade da matéria em análise, foi necessário pedir um adicional para uma reflexão aprofundada e a devida deliberação que culminasse em uma decisão final.
Aproveitamos, igualmente, essa oportunidade, para expressar nossa profunda gratidão pela confiança a nós depositada, em especial à diretoria executiva do Clube Náutico Capibaribe, permitindo a nós participar de um capítulo tão significativo da história dessa valorosa instituição.
Dentro das nossas tratativas, observamos que todo o processo foi conduzido com elevado grau de profissionalismo, transparência e boa fé por todas as partes envolvidas, sempre tendo como norte buscar uma alternativa viável para a constituição da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) e a consequente superação dos obstáculos que afligem a associação.
Todavia, pude conhecer que, diante dos relevantes questionamentos suscitados pelo Conselho Deliberativo, tornou-se latente a necessidade de alterações estruturais substanciais na proposta originalmente apresentada. O que, infelizmente, inviabiliza a manutenção do formato atual.
Destacamos, ademais, que, algumas das ponderações formuladas, tanto na reunião do Conselho quanto no documento subsequente que nos foi encaminhado, resta evidente que determinados aspectos, notadamente relacionados ao patrimônio do clube demandam tratamento prévio e específico como condição especial para que o projeto possa prosperar de forma sólida e sustentável.
Diante do exposto, em nome do Consórcio Timbu, comunicamos, com a devida consideração e respeito, a nossa desistência e, por conseguinte, a retirada formal da proposta anteriormente submetida. Reiteramos, por fim, a nossa confiança no futuro promissor do Clube Náutico Capibaribe, certos de que a presente discussão ajudará a fomentar novos caminhos e possibilidades, permitindo que, em ocasião oportuna, possamos retomar o diálogo e, quem sabe, contribuir para a construção de um exitoso projeto de SAF.
Atenciosamente,
Fransérgio Euripedes Ferreira Bastos.