O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viveu uma recepção mista nesta terça-feira (20), ao participar da 26ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios. Diante de uma plateia de cerca de 12 mil gestores públicos, entre prefeitos, vice-prefeitos e secretários municipais de todas as regiões do Brasil, o chefe do Executivo foi vaiado e aplaudido ao defender sua postura institucional frente aos representantes municipais, independentemente de partidos.
Em seu discurso, Lula reafirmou que seu governo não faz distinção política na hora de atender os prefeitos e governadores, afirmando que seu compromisso é com a população e não com legendas partidárias. “Não existe a possibilidade de prefeito não ser atendido por cor partidária no meu governo”, disse, ao tentar acalmar os ânimos da plateia. No entanto, suas falas seguiram recebendo reações divididas, num reflexo da polarização que marca o cenário político brasileiro desde 2022.
Essa polarização tem se mostrado um dos maiores obstáculos do governo Lula em seu terceiro mandato. A dificuldade de estabelecer pontes entre os poderes e, principalmente, entre os parlamentares da base governista e da oposição, tem prejudicado o avanço de pautas importantes. O clima de disputa ideológica, frequentemente inflamado nas redes sociais e nas tribunas do Congresso, compromete a construção de consensos e o diálogo necessário para a governabilidade.
Durante o evento, Lula também saiu em defesa do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, elogiando sua atuação e rebatendo críticas de que ele travaria decisões importantes. A fala do presidente foi uma tentativa de reforçar a unidade interna do governo em meio a tensões políticas e à pressão externa vinda de representantes municipais.
Outro ponto de tensão no encontro foi a crítica do presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele questionou decisões que buscam dar mais transparência às emendas parlamentares destinadas a estados e municípios, afirmando que essas exigências dificultam a liberação dos recursos. Ziulkoski expressou insatisfação ao dizer que a nova legislação obriga os deputados a apresentarem projetos mais detalhados, o que, segundo ele, “limita tudo”.
Lula não deixou a crítica sem resposta. Em tom irônico, comentou que Ziulkoski voltou a ser “inflamado” neste ano, sugerindo que o líder municipalista foi mais brando com o governo anterior. O episódio evidenciou não apenas o clima tenso do evento, mas também o quanto o cenário atual exige habilidade política para lidar com divergências, críticas e resistências.
Diante de um ambiente cada vez mais dividido, o governo Lula 3 enfrenta o desafio constante de promover o diálogo em meio a ruídos, desconfianças e disputas políticas. Manter a governabilidade, neste contexto, exige mais do que articulação técnica — demanda disposição real para ouvir, ceder e construir pontes em um país onde as diferenças ideológicas têm se tornado muros.
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