O brega, por muito tempo subestimado e rotulado como música das massas periféricas, ganha agora o reconhecimento merecido: o Brasil terá o Dia Nacional do Brega, celebrado em 14 de fevereiro — data que homenageia o nascimento do icônico Reginaldo Rossi, o eterno “Rei do Brega”. A sanção da Lei nº 15.136/25 pelo presidente Lula é mais do que um gesto simbólico. É um marco de valorização de uma das manifestações culturais mais autênticas e vibrantes do país, com fortes raízes fincadas em Pernambuco.
Esse reconhecimento não surgiu do acaso. Foi fruto de articulação política, escuta ativa e, acima de tudo, da força de uma cultura que resistiu à marginalização por décadas. O deputado federal Pedro Campos, autor da proposta, destaca o brega como uma expressão legítima das periferias brasileiras. Em suas palavras, o ritmo carrega a voz do povo — uma voz que há muito tempo pedia espaço em Brasília e agora é ouvida em alto e bom som.
Pernambuco tem papel central nesse processo. Berço de Reginaldo Rossi e de uma cena pulsante que inclui o Brega Funk e o Tecnobrega, o estado transformou o brega em símbolo de resistência e inovação. No Recife, o gênero não apenas embala multidões nos bairros e festas, mas movimenta a economia com impacto mensurável. Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pernambuco revelou que, durante o Carnaval de 2025, a cadeia produtiva do brega injetou R$14,5 milhões na economia local. Cada real investido na cena pela prefeitura gerou quase o dobro de retorno — um dado que confirma o brega como motor de desenvolvimento, além de sua relevância artística.
O brega é plural. Ele atravessa décadas se reinventando e dialogando com outras estéticas, do bolero ao zouk, da jovem guarda ao samba-canção, até chegar às batidas aceleradas do Brega Funk. Ele não apenas canta a dor e o amor com exagero dramático e refrões chicletes, mas influencia moda, comportamento e identidade. É uma manifestação viva e mutante que une gerações, bairros, estados e agora, oficialmente, o país inteiro.
O surgimento do Dia Nacional do Brega é um convite ao Brasil para rever seus próprios preconceitos e reconhecer a potência criativa que pulsa nas bordas. É também um incentivo para que políticas públicas fortaleçam esse segmento, valorizem seus artistas e ampliem suas oportunidades de circulação e fomento. Afinal, mais do que um ritmo musical, o brega é um espelho da alma brasileira: exagerado, apaixonado, criativo — e, acima de tudo, popular.
Foto: Chico Ferreira.