O Brasil tem horror à espera. Quer justiça como se quer café: quente, forte e na hora. Mas o Direito não é balcão de lanchonete. E a pressa — sempre ela — transforma o necessário em perigoso.
Querem que o agente público arrombe a porta. Que o juiz ignore a prova ilícita. Que a prisão venha antes da dúvida. E a legalidade? Ah, a legalidade seria só um devaneio à esquerda. Só que não é. É o mínimo. É o que separa o Estado daquilo que ele jura combater.
Conservar é desconfiar da facilidade. É saber que força sem forma é só brutalidade elegante. Edmund Burke, que detestava a desordem, sabia: sem limites, até a virtude apodrece.
Dizem que exigir respeito à lei processual penal é coisa de progressista. Não é. É coisa de quem sabe que um Estado forte não é o que prende mais — é o que prende certo. E que um processo limpo dá à condenação um peso que nem a retórica mais barulhenta derruba.
O conservadorismo verdadeiro não precisa aplaudir abuso para defender a ordem. Pelo contrário: desconfia do poder sem freio, mesmo quando dirigido aos culpados. Porque amanhã o alvo pode ser outro.
Há quem queira punição a qualquer preço. Mas o preço da punição ilegal é a própria ruína da ordem. E, no fim, o castigo sem regra é o ensaio da tirania.
Quem ama a civilização cuida da forma. Não por romantismo. Mas porque, sem ela, sobra só o grito. E gritos, por mais que agradem as massas, não sustentam uma sociedade por muito tempo.