O papa emérito Bento XVI, que faleceu no sábado passado (31), aos 95 anos de idade, pediu a seu secretário pessoal, dom Georg Gänswein, que destruísse “sem exceção” seus escritos particulares, como este último mesmo relatou em seu próximo livro.
– Algumas pessoas me perguntaram o que farei com seus documentos após a morte de Bento XVI. Isso não é realmente um problema para mim, já que recebi instruções precisas dele, sobre os manuscritos de seus livros, a documentação sobre o Conselho e sua correspondência, que sou obrigado em consciência a respeitar – escreveu Gänswein.
O arcebispo alemão, o colaborador mais próximo de Bento XVI desde 2003, especificou que “quanto ao resto dos escritos, seu destino foi marcado”.
– Fólios privados de todos os tipos devem ser destruídos. Isso deve ser feito sem exceções e sem brechas – disse Gänswein sobre a instrução que recebeu do pontífice emérito.
Gänswein publicará o livro Nient’altro che la verità (“Nada mais que a verdade” em tradução livre) na próxima semana para responder “às calúnias e manobras obscuras” que, segundo ele, tentaram “em vão” lançar uma sombra sobre o legado do pontífice.
Bento XVI morreu no mosteiro do Vaticano onde passou a última década de sua vida após sua histórica renúncia ao pontificado em 2013.
O QUE SE SABE ESTAR ESCRITO NOS DOCUMENTOS DO PAPA?
Em suas páginas, o monsenhor alemão criticou Francisco, o atual papa e sucessor de Bento XVI, por algumas de suas decisões, como, por exemplo, pôr fim às missas em latim, algo altamente criticado pelos setores mais conservadores da Igreja Católica.
Ele também contou que, de um dia para o outro, Francisco lhe confiou a tarefa de cuidar de Ratzinger em seu retiro no mosteiro Mater Ecclesiae.
– De agora em diante fique em casa, acompanhe Bento, que precisa de você, e aja como um escudo para ele – teria dito Francisco, segundo Gänswein.
Ele confirmou e lamentou no livro a existência de correntes ou “torcidas” (ele usa o termo “tifoserie”, relacionado a torcedores de futebol italianos) dentro do Vaticano.
– De fato, acredito que a análise mais correta deve indicar como um problema, não tanto a coexistência de dois papas, um reinante e outro emérito, mas o nascimento e desenvolvimento de duas torcidas, pois, com o passar do tempo, (Bento XVI) tornou-se cada vez mais consciente de que havia de fato duas visões da Igreja – disse.
Na última década, a coexistência de dois papas, um reinante e outro emérito, deu origem a duas correntes, e a ala mais conservadora tem recorrido frequentemente ao legado de Bento XVI para atacar Francisco, embora ambos sempre tenham expressado respeito mútuo.
*EFE