Neste ano de 2022 continuamos suspensos no ar doente, cercados por maldades, sobrevivendo na perda, zangados com imorais ganhos legais. A Democracia sob ataque treme, mas confia em quem a defende, espera atitudes concretas, torce para que sua patroa, a Cidadania, se imponha, firme e empoderada. Esta patroa precisa urgentemente confortar a Democracia com duas palavras doces, palavras com o poder da cura para os males comuns: informação e fiscalização.
A Cidadania neste seu conforto calmo e seguro à Democracia deve antes de tudo, e definitivamente, se assumir patroa do Estado, este ambiente no qual a Democracia paira, respira, se reproduz, se concretiza, deita e rola. Existe, enfim. A Cidadania deve ser uma patroa sem excessos. Comedida. Sábia. Não pode perder a razão, descer do salto, rodar a baiana, viajar na maionese, ter cara de pau, se achar o último biscoito do pacote (na verdade ela é o pacote inteiro mesmo).
Sejamos claros: a Cidadania manda, a Democracia obedece. E é um interessante jogo de interesses o que acontece no ambiente Estado quando Cidadania e Democracia se sentam à mesa com as cartas na mão. Percebe-se de imediato que todos são patrões e alguns também são empregados. E o interessante é que os empregados tendem a esquecer que o são. Neste momento a Cidadania se impõe, altiva: alto lá cara pálida. E a Democracia segue o jogo.
Patrões que são empregados têm dificuldades com esta dupla personalidade. Se a Cidadania bobeia eles viram doutores, excelências, egrégios, imaginam altares, criam mundinhos. São desvios na verdade enraizados e é por isto devem ser combatidos com a mesma altivez que demonstram. Na vera: empregado é empregado, patroa é patroa. E, se no Capitalismo é assim e ninguém discute, que assim seja na Cidadania (que é comunista na sua essência – inclui literalmente todos).
Textinho cheio de considerações básicas para por em discussão algo que se esconde em rapapés e reuniões fechadas cheias de boas intenções: na Democracia a Cidadania contrata empregados. Vamos escolher os próximos com as doces palavras do início – informação e fiscalização. Demissão sumária é o que muitos empregados hoje merecem. Verdade que a Cidadania não pode demitir todos os maus empregados a cada quatro anos. Mas pode fiscalizar e deixar claro quem manda. E quem é a dona do dinheiro também. Tá pagando.
P.S. Este texto é tão inclusivo quanto a Cidadania. O masculino de alguns termos é só um ‘o’ mesmo.
*O texto não define, necessariamente, a opinião do Radar Político365
Cristina França é goianense, jornalista e tradutora pública.