O papa Francisco descarta uma possível renúncia, que descreve como uma “hipótese distante” que só ocorreria devido a “um grave impedimento físico”. Ele ainda afirmou que, quando foi hospitalizado, alguns no Vaticano estavam “mais interessados em política, em fazer uma campanha eleitoral, quase pensando em um novo conclave”.
– É verdade que o Vaticano é a última monarquia absoluta na Europa, e que aqui ocorrem frequentemente raciocínios e manobras cortesãs, mas esses padrões devem ser abandonados definitivamente – destaca em Life, My Story Through History, sua autobiografia que será publicada na próxima semana, mas que teve trechos adiantados nesta quinta-feira (14) pelo jornal italiano Corriere della Sera.
O periódico publicou trechos do livro escrito pelo papa de 88 anos com seu amigo pessoal Fabio Marchese, no qual faz uma retrospectiva de sua vida, desde a infância até a atualidade, e comenta grandes momentos históricos, desde a bombardeios nucleares em Hiroshima e Nagasaki ou o golpe militar na Argentina até a pandemia.
– Acredito que o ministério petrino é ad vitam e, portanto, não vejo condições para uma renúncia. As coisas mudariam se ocorresse um grave impedimento físico, e nesse caso já assinei no início do pontificado a carta com a renúncia que está depositada na Secretaria de Estado. Se isso acontecesse, eu não me chamaria papa emérito, mas simplesmente bispo emérito de Roma, e me mudaria para Santa Maria Maggiore para voltar a ser confessor – afirma.
– Mas esta é uma hipótese distante, porque realmente não tenho motivos tão sérios para pensar em uma renúncia. Alguém, ao longo dos anos, talvez tenha esperado que mais cedo ou mais tarde, talvez depois de uma hospitalização, eu fizesse um anúncio desse tipo, mas não existe esse risco: graças a Deus, estou bem de saúde – acrescenta.
Sobre os ataques que recebeu, diz que ficou magoado com o fato de terem dito que ele está “destruindo o papado”:
– [No conclave de 2013] havia uma grande vontade de mudar as coisas, de abandonar certas atitudes que infelizmente ainda hoje lutam para desaparecer. Sempre há quem tenta travar as reformas, quem gostaria de permanecer imóvel no tempo do papa-rei – afirma.
Francisco fala dos seus avós e que o piemontês, dialeto do norte de Itália, foi a sua “primeira língua materna”, sobre como a sua família escapou de um naufrágio em que morreram 300 migrantes no início do século 20, ou sobre filmes e canções italianas que sempre o acompanharam.
Ele também dá sua opinião sobre temas como o aborto, a barriga de aluguel ou o acolhimento de homossexuais na Igreja, ao mesmo tempo que se refere à sua relação com o antecessor, Bento XVI e fala de Diego Maradona, Lionel Messi e sua paixão pelo futebol.
Também comenta sobre o regime militar na Argentina, quando escondeu três seminaristas, que o ajudaram “a acolher outros jovens em risco como eles, ao menos 20 em dois anos” e de seu papel na libertação de dois jesuítas expulsos pela companhia e sequestrados.
– Foi um genocídio geracional. As acusações contra mim continuaram até recentemente. Foi a vingança de alguns que sabiam o quanto eu me opunha a essas atrocidades – diz o pontífice.
*EFE