Na apresentação da não discutida Lei Orçamentária Anual 2022 o representante do Poder Executivo (perdão esquecer o nome) repetiu que o valor apresentado para a Cultura era real. Foi enfático, não foi claro ou transparente ou específico ou detalhista. Apenas disse: ‘o valor existe’. Então nos resta crer que não é utilizado porque não se quer utilizar. De cadastro em cadastro, de auxílio em auxílio, de discurso em discurso empregadas/os (cidadãs/ãos, diga-se de passagem, até prova final em contrário) vão fazendo de conta que se importam realmente com um setor que sabidamente gera alegria no bolso e na alma.
Esta introdução é um espelho do modo como se gerencia nosso território. Na base da surpresa. Aparentemente não há planejamento. Obras são anunciadas ao acaso. Indicadas pelo Legislativo, como se fossem decididas ao sabor das demandas das comunidades. Praças, postos de saúde, calçamento, iluminação, campinho de futebol. A Cidadania estarrecida aplaude, são obras necessárias, obviamente. A questão é a transparência. Tenho solicitado, especialmente no Instagram das/os vereadoras/es e do prefeito que seja dada ampla publicidade ao calendários de obras previstas para este ano. Silêncio de cemitério.
Não dá. Não pode. Não é democrático. Não é cabível. Não é aceitável. A radicalidade se faz imperativa pela sua simplicidade e obviedade. Os recursos são públicos. As obras são públicas. As/os cidadãs/ãos são tão cidadãs/ãos quantos as/os empregadas/os eleitas/os ou contratadas/os. O porquê da gestão por surpresas deve ser explicado. O território é nosso. Nos cabe dele tomar conta. Todes juntes. Contratar ou eleger gestoras/es não as/os exime da diária prestação de contas, não as/os coloca degraus acima de quem as/os elegeu/contratou.
Gerenciar um território não é tarefa fácil. É para as/os capazes. Capazes especialmente de dialogar, de compreender a honra, em toda sua dimensão, de ter a chance de fazer valer a Cidadania em cada detalhe do viver cotidiano. Trazer a Cidadania para o centro da gestão. Sem receio de que ela seja um empecilho. Sem achar que faz favor. Nosso território não é propriedade privada. É tão instigante acreditar que sim, podemos gerenciá-lo em conjunto. Há quem assine a despesa, é claro, mas ela é decidida no plural, planejada, com dia para começar e para acabar, e enquanto estiver em curso que tenha um abacaxi aceso no canteiro de obras (figura de linguagem espetaculosa).
O ano começou. E que ano este de 2022. Divisor de águas diria. A gestão Eduardo Honório está aí. Um cidadão que tem a oportunidade de fazer história – e aqui retomo a introdução, implementando o Sistema Municipal de Cultura. Uma surpresa daquelas, que ele pode anunciar num domingo à tarde. A Cidadania alegre é poderosa, é uma aliada leve e pau pra toda obra. Confiem nela senhoras e senhores. Será o fim das depressões e dificuldades que a vida pública por vezes traz. Não mais surpresas, só vitórias coletivas.
Cristina França é goianense, jornalista e tradutora pública.