As campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) se preparam para investir pesado nos programas eleitorais transmitidos na TV a partir de agosto. As inserções partidárias que começaram a ser veiculadas —do PT em março e do PL em junho— dão o tom sobre o que está por vir no segundo semestre: o chefe do Executivo pretende convencer o eleitor que o governo agiu para evitar mais mortes na pandemia e que gerou empregos, mas a recessão global e a guerra na Ucrânia prejudicaram o Brasil; já a equipe de Lula quer transformar sua gestão (2003-2010) em exemplo de prosperidade ao mostrá-lo como o único líder capaz de garantir comida e bem-estar social.
O embate promete ser duro e disputado voto a voto. PL e PT contrataram profissionais experientes para cuidar da comunicação. Nada de improvisação. A campanha à reeleição, encabeçada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira(PP), conseguiu dobrar o presidente para que ele aceitasse trabalhar com um marqueteiro. O argumento que centrou as conversas foi o de que a equipe precisava trabalhar com gente experiente que mostrasse como não errar.
Homem de confiança de Valdemar e conterrâneo de Mogi das Cruzes (SP), o marqueteiro Duda Lima ajudou informalmente a organizar o evento de filiação de Bolsonaro no ano passado. Já estava ambientado em março quando produziu o lançamento da candidatura à reeleição. Avesso à imprensa, Duda se reúne a cada 15 dias, no máximo, com o núcleo da campanha em Brasília para discutir ideias para os programas de TV, cujo espaço vai servir como plataforma de apresentação dos quatro anos de governo.
O entorno do presidente entende que Bolsonaro precisa mostrar na TV as realizações do governo federal, como a entrega de equipamentos para o SUS durante a pandemia e a renegociação de dívidas do Fies. A campanha também vai explorar a repaginação de dois programas de governo petistas: a conclusão de algumas obras da transposição do rio São Francisco e o pagamento do Auxílio-Brasil, o antigo Bolsa Família. O presidente vai seguir o tom religioso característico de seus discursos.
Um dos vídeos foi gravado em uma igreja em Brasília e alguns filmes vão mostrar cenas em outras cidades. A primeira-dama, Michelle Bolsonaro, se filiou ao PL para poder participar dos programas com o objetivo de atingir o eleitorado evangélico e o feminino —este, apresenta alto índice de rejeição ao chefe do Executivo. Ela também vai ser a porta-voz de algumas políticas no âmbito social, em especial relacionadas a mulheres, idosos e portadores de deficiência.
“Devemos ganhar 5 pontos até o final do mês. Nunca tivemos essa exposição”, diz o vice-presidente do PL, deputado Capitão Augusto (SP), sobre os programas que já estão indo ao ar. “Vamos finalmente ter a oportunidade de destacar as ações da Infraestrutura, Cidadania, Agricultura, Desenvolvimento Regional e Ciência e Tecnologia.”
Já a campanha de Lula vai focar em problemas reais, como economia e fome — assim como o fez nas inserções partidárias veiculadas no começo do ano. O partido vai trabalhar a dualidade: fome versus comida no prato, desmatamento versus floresta em pé, direitos humanos versus intolerância. Essa mensagem deu a tônica do discurso de Lula no lançamento de sua candidatura, em maio, com a mensagem de amor versus ódio.
Sob a orientação do marqueteiro Sidônio Palmeira, o PT conseguiu traduzir duas ideias políticas para sua comunicação visual, conta um integrante da campanha. Uma delas é a reapropriação da bandeira do Brasil, que virou marca bolsonarista desde 2018. O logotipo traz as cores da bandeira misturadas com o vermelho, característico do PT. A outra é o slogan: (“Vamos juntos pelo Brasil”), que trata da união por uma frente ampla anti-Bolsonaro. “O alto custo de vida e o desemprego passam pelo trabalho da gente com uma linguagem simples e clara. A economia, o preço do gás, do combustível afetam diretamente a vida das pessoas e é isso que vamos mostrar”, diz Sidônio. O petista também deve explorar as críticas à gestão de Bolsonaro na pandemia.
A projeção dada pela televisão já provoca um impasse: Bolsonaro disse que só vai participar de debates no segundo turno. Lula pretende ir apenas aos debates que Bolsonaro for, e sua equipe quer que sejam, no máximo, três. Uma pesquisa do Instituto FSB, realizada de 27 a 29 de maio, aponta que o eleitor busca no debate a decisão do voto. Em um universo de 2 mil entrevistados no país, 61% dizem que o enfrentamento é a ocasião para definir sobre quem defende as melhores propostas. Ou seja, se os dois principais candidatos seguirem essa toada, quem perde é o eleitor.
Com informações de Veja