O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, planeja invocar poderes de emergência, raramente usados, para enfrentar os protestos contra medidas sanitárias anticovid liderados pelos caminhoneiros do chamado Comboio da Liberdade. As manifestações fecharam algumas passagens de fronteira com os Estados Unidos e paralisaram o centro da capital, Ottawa.
Na Província de Alberta, a polícia informou ter desmantelado um grupo armado e detido 11 pessoas que se preparavam para usar a violência para apoiar um bloqueio em uma passagem de fronteira.
Segundo fontes citadas pelas agências internacionais, Trudeau planeja usar a Lei de Emergências de 1988, que permite que o governo federal suspenda o poder das províncias e autorize medidas temporárias especiais para garantir a segurança durante emergências nacionais. As fontes não quiseram ser identificadas, dada a sensibilidade da situação.
A lei foi usada apenas uma vez em tempos de paz – pelo pai de Trudeau, o ex-primeiro-ministro Pierre Trudeau, que invocou uma versão anterior da lei, Medidas de Guerra, em 1970, depois que um pequeno grupo militante de separatistas de Quebec sequestrou um ministro de província e um diplomata britânico.
Os protestos do Comboio da liberdade, iniciados por caminhoneiros canadenses que se opõem a um mandato de vacinação ou quarentena para motoristas transfronteiriços, tornaram-se um ponto de encontro para pessoas que se opõem às políticas do governo de Trudeau, cobrindo tudo, desde restrições pandêmicas até um imposto sobre carbono.
Nas últimas duas semanas, centenas e, às vezes, milhares de manifestantes em caminhões e outros veículos lotaram as ruas de Ottawa, a capital canadense. Eles também bloquearam várias passagens de fronteira EUA-Canadá. A mais movimentada e importante delas – a Ponte Ambassador, que liga Windsor, Ontário, a Detroit, Michigan – foi reaberta no domingo (13), depois que a polícia prendeu o último dos manifestantes e quebrou o cerco de uma semana que interrompeu a produção de automóveis nos dois países.
Nos últimos dias, o primeiro-ministro do Canadá rejeitou os pedidos para usar as forças armadas, mas disse que “todas as opções estavam sobre a mesa” para encerrar os protestos, incluindo invocar a Lei de Emergências, que dá amplos poderes ao governo.
– Nosso governo está preparado para fazer o que for necessário para manter o estado de direito e restaurar a ordem em nossas comunidades e, em particular, para proteger a infraestrutura crítica, principalmente em nossas fronteiras – disse o ministro da Preparação para Emergências, Bill Blair, quando questionado na segunda-feira sobre se a lei seria invocada.
Armas
Em outro desenvolvimento, a Polícia Montada Real Canadense informou que prendeu 11 pessoas na fronteira dos EUA em Coutts, Alberta, depois de saber de um esconderijo de armas e munições. A polícia disse que um pequeno grupo dentro do protesto estaria “disposto a usar a força contra a polícia se qualquer tentativa fosse feita para interromper o bloqueio”.
As autoridades informaram ter apreendido 13 armas longas, revólveres, conjuntos de coletes, um facão, uma grande quantidade de munição e carregadores de alta capacidade.
O governador de Alberta, Jason Kenney, também disse que manifestantes em um trator e um caminhão pesado tentaram atropelar um veículo da polícia em Coutts, na noite de domingo, e fugiram.
– Isso ressalta a gravidade do que vem acontecendo – disse ele.
Nas últimas semanas, as autoridades hesitaram em agir contra os manifestantes em todo o país. As autoridades locais citaram a falta de mão de obra policial e o medo da violência, enquanto as autoridades provinciais e federais discordaram sobre quem era responsável por reprimir os distúrbios.
– Este é o maior e mais severo teste que Trudeau enfrentou. E se, usando a Lei de Emergências eles, não conseguirem cancelar o protesto, acho que acabou para ele – disse Wesley Wark, professor da Universidade de Ottawa e especialista em segurança nacional.
Invocar a Lei de Emergências permitiria ao governo federal declarar ilegal o protesto de Ottawa e eliminá-lo por meios como veículos de reboque, disse Wark. Também permitiria ao governo canadense fazer maior uso da Mounties, a agência da polícia federal.
– Invocar poderes de emergência seria um sinal para ambos os canadenses em todo o país e também um sinal importante para aliados como os EUA e ao redor do mundo que estão se perguntando o que diabos o Canadá está fazendo – Wark disse.
As manifestações no Canadá inspiraram comboios semelhantes na França, na Nova Zelândia e na Holanda. Autoridades dos EUA disseram que comboios de caminhões podem estar em andamento nos Estados Unidos.
Fim de restrições
Em outro desdobramento, o governador de Ontário, Doug Ford, anunciou na segunda-feira (14) que a província canadense abandonará o passaporte de vacinação contra a Covid.
– Vamos nos livrar dos passaportes – disse Ford em entrevista coletiva.
Ele afirmou que a grande maioria das pessoas foi vacinada e que o pico de casos de Covid causados pela variante Ômicron já passou.
A província, a mais populosa do Canadá, voltou a impor no fim de dezembro, à semelhança de outras regiões do país, medidas muito rigorosas diante do aumento de infecções.
Ford disse estar “pronto” para acelerar o “plano de reabertura” e que, a partir de 17 de fevereiro, as medidas serão eliminadas, “exceto em casas de shows, teatros e eventos esportivos, que terão um limite de 50% [de lotação]”.
*AE