O primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, organizado pela Band, foi marcado na noite da quinta-feira (8) por trocas de farpas, ataques de baixo calão e tom pouco propositivo. Como esperado, o atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes (MDB), foi o principal alvo dos adversários, enquanto Pablo Marçal (PRTB) assumiu o papel de “franco-atirador”, disparando críticas e até palavrões contra Nunes, José Luiz Datena (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB). O debate já começou em clima acalorado, com o primeiro bloco dominado por ataques pouco republicanos, com destaque para as declarações do ex-coach Pablo Marçal, que chamou Boulos de “comedor de açúcar” e “apoiador do grupo terrorista Hamas“.
Marçal elegeu Boulos e Nunes como seus principais alvos, mas seu embate mais intenso foi com Tabata Amaral. Marçal respondeu à deputada com agressividade em todos os questionamentos, chamando-a de “para-choque de comunista”, “candidata fantoche” e a comparando a uma “jornalistazinha militante”. Tabata e Marçal protagonizaram outros embates. Em dado momento, a deputada afirmou que São Paulo não precisa de “carro voador” nem de um “candidato que diz que dá murro em tubarão”, chamando Marçal de “0071 goiano” que veio a São Paulo oferecer soluções inexistentes.
Alvo preferencial
Sentado hoje na cadeira de prefeito, Nunes foi, de longe, o principal alvo dos demais candidatos. Seus adversários exploraram temas sensíveis à gestão municipal, como as obras sem licitação e as investigações que apontam para uma suposta ligação entre empresas de ônibus e o Primeiro Comando da Capital (PCC). O boletim de ocorrência por violência doméstica registrado por sua esposa voltou a assombrar o prefeito, que se manteve calmo e dedicou boa parte de seus discursos a citar entregas de sua administração e atacar a Boulos.
Em várias ocasiões, o prefeito insinuou que Boulos não trabalha, relembrou episódios polêmicos da trajetória do psolista, como a participação na invasão do Ministério da Fazenda pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), e explorou as falas controversas do adversário sobre o ditador venezuelano Nicolás Maduro. Além de transformar o debate em um verdadeiro ringue, Pablo Marçal focou em se posicionar como o candidato da direita na eleição paulistana. Logo no início, o ex-coach chamou Nunes de “falsa direita”, disse que o partido do prefeito, o MDB, tem ministérios no governo Lula (PT) e ressaltou que a petista Marta Suplicy, vice de Boulos, foi secretária de Nunes até janeiro.
Lula e Bolsonaro ficam praticamente fora do debate
Contrariando as expectativas, a polarização passou longe do debate, com raras menções ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Datena tentou lançar a ideia de que Boulos e Nunes seriam marionetes de Lula e Bolsonaro, respectivamente, enquanto Boulos, que afirmou ter orgulho do apoio de Lula, chamou o prefeito de “bolsonarista envergonhado” e Marçal de “bolsonarista rejeitado”. O apresentador José Luiz Datena tentou manter a estratégia de se apresentar como alternativa à polarização, embora tenha direcionado críticas mais duras a Nunes.
No primeiro bloco, o apresentador ensaiou uma dobradinha com Boulos ao chamá-lo para fazer uma pergunta que tivesse como alvo o prefeito. Mas logo depois o apresentador se voltou contra o líder sem-teto. “Depois, quero saber se você é democrata, porque parece que não é, apoia Maduro e a ditadura na Venezuela. Você deveria ser prefeito lá em Caracas”, disparou o tucano. Tabata Amaral, além de protagonizar confrontos diretos com Nunes e Marçal, usou o debate para se apresentar à cidade. Ela se posicionou como a única candidata que já conversou com todos os ex-prefeitos e que tem a capacidade de dialogar tanto com Tarcísio quanto com Lula.
Janones e Venezuela viram vidraça de Boulos
O parecer de Boulos que absolveu Janones da acusação de rachadinha no Conselho de Ética, junto com seu posicionamento em relação à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela, atraiu críticas dos adversários. “Você anda de braços dados na Comissão de Ética com o Janones da rachadinha” atacou Datena. “Depois, quero saber se você é democrata, porque parece que não é, apoia Maduro e a ditadura na Venezuela. Você deveria ser prefeito em Caracas,” completou. O líder sem-teto respondeu: “Ô, Datena. Até tu com fake news? Te conheço, sei que você é uma pessoa correta.” Nunes também explorou os dois temas. “Olha, Boulos, acho que você tem que responder quem é Janones. Você instituiu a legalização da rachadinha. Você precisa responder quem é Nicolás Maduro”, disse o prefeito.
Tabata e Marçal protagonizaram várias trocas de farpas durante o debate. No primeiro bloco, Tabata desconcertou Marçal ao questioná-lo sobre a Operação Água Branca, sobre a qual ele não tinha conhecimento. “Você pode esclarecer o que é a Operação Água Branca? Deve ser algum bandido de esquerda envolvido,” respondeu Marçal, provocando risos na plateia. Em outro momento, Tabata citou as acusações de fraude bancária envolvendo Marçal e perguntou se ele planejava usar sua “experiência no mundo do crime” para desenvolver políticas públicas de segurança. O ex-coach respondeu dizendo que a deputada estava o confundindo com “sua heroína, Dilma Rousseff” e chamou Tabata de “adolescente”.
Datena e Boulos direcionam ataques a Nunes
Datena e Boulos, que chegaram a esboçar uma dobradinha no primeiro bloco, direcionaram seus ataques ao prefeito Ricardo Nunes. Datena, em várias ocasiões, mencionou as investigações que apuram a ligação do PCC com empresas de ônibus que operam na capital. Ele também acusou Nunes de não ter concluído “vários projetos” iniciados por seu antecessor, Bruno Covas, e afirmou que o prefeito não está preparado para enfrentar as enchentes. Datena declarou que, se chover em outubro, Nunes é “eleito prefeito nem do fim do mundo”.
Boulos seguiu o mesmo caminho que Datena, destacando investigações que atingem o prefeito, como a da Máfia das Creches. O psolista tratou de associar Nunes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), referindo-se a ele como “bolsonarista envergonhado” e a Marçal como “bolsonarista rejeitado” que tentou se alinhar com Bolsonaro, mas acabou “órfão”. Tabata Amaral questionou Nunes sobre a veracidade do boletim de ocorrência por violência doméstica registrado por sua mulher, Regina Nunes, sugerindo que ele teria mentido ao afirmar, em sabatina ao portal UOL e ao jornal Folha de S Paulo, que o documento era “forjado”.
Nunes respondeu dizendo que nunca “levantou um dedo” para sua mulher e criticou Tabata por trazer o assunto à tona. “Não esperava esse nível de você”, afirmou Nunes, defendendo que a campanha não pode ser um “vale tudo”. Ele ainda acrescentou: “No período eleitoral, infelizmente, forjam essas histórias. Eu realmente tive com a minha esposa, há 14 anos, um período de quatro ou cinco meses em que a gente realmente se separou, tivemos um desentendimento, mas nada de agressão.” Quando Tabata trouxe o assunto à tona, Regina, que estava na plateia, reagiu imediatamente, pedindo respeito à sua família.
Fonte: Jovem Pan.