A ex-presidente Dilma Rousseff disse que é contra qualquer política de intervenção baseada em sanções econômicas, como as que vêm sendo aplicadas contra a Rússia. Ela deu declarações durante o Brazil Summit Europe, seminário realizado em Berlim, na Alemanha, por alunos brasileiros da Hertie School.
A participação da petista ocorreu de forma remota. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso e Cármen Lúcia, também participaram do evento, bem como professores brasileiros e alemães.
Segundo Dilma, a imposição de sanções só produz “mortes, fome e miséria” e não é eficaz para forçar alterações. Ela citou os exemplos de Cuba, que sob embargo americano há 60 anos, e Venezuela, que segue sancionada pelos Estados Unidos desde 2017.
– Somos, da nossa parte, contrários a qualquer política de intervenção econômica baseada em sanções, até porque tal política só produziu mortes, fome e miséria. Temos dois terríveis exemplos, os 60 anos de sistemáticas sanções aplicadas contra Cuba e as recentes sanções contra a Venezuela durante uma pandemia, que provocaram danos à população daqueles países e não alteraram os seus regimes – falou a ex-presidente.
Ela afirmou ainda que a invasão da Ucrânia e as sanções decorrentes da guerra irão “remodelar a economia mundial” e promover uma maior regionalização das cadeias produtivas, em um fenômeno conhecido por “desglobalização“.
– A invasão da Ucrânia pela Rússia tem, sem dúvida, consequências econômicas e sociais sobre todos os países do mundo globalizado, mesmo que a globalização já viesse se enfraquecendo desde pelo menos a crise de 2008. As sanções fazem parte da guerra, por outros meios. E essas sanções têm o potencial de remodelar a economia mundial, trazendo as cadeias globais de fornecedores para dentro dos países ou para mais próximo de cada uma das regiões – avaliou.
A petista falou também sobre o Brasil. Ela defendeu que a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, a sua sustentação no cargo e sua campanha à reeleição seriam frutos de uma aliança entre o “neoliberalismo” e o “neofascismo“.
Rousseff chamou Bolsonaro de resultado de um “ovo da serpente” chocado durante o impeachment sofrido por ela em 2016.
– Sabemos que [Jair] Bolsonaro é resultado do ovo da serpente chocado no golpe de 16, no discurso de ódio que o sustentou e na interdição do presidente Lula – falou.
Dilma disse que seu impeachment foi um “golpe para atender aos neoliberais” e “retomar o projeto ultraconservador brasileiro”.
– A política neoliberal, junto com o neofascismo, constituem os grandes responsáveis pela catástrofe humanitária hoje existente no Brasil. O neoliberalismo não tem o chip da moderação, e está aliado ao autoritarismo. A derrota nas urnas e a defesa da ditadura militar colocam sempre no horizonte de Bolsonaro o questionamento do resultado das eleições e a busca por uma intervenção militar em último caso – declarou.
As informações são do Deutsche Welle e do G1.