O presidente do Peru, Pedro Castillo, deixou nesta quinta-feira (30), o partido Peru Livre, com o qual venceu as eleições do ano passado, após ser acusado pelos líderes partidários de ter promovido uma dissidência interna e implementado um “programa neoliberal”. A legenda passa agora a fazer parte da oposição ao presidente.
A saída aumenta o isolamento político de Castillo, que enfrenta denúncias de crimes de patrocínio ilegal e tráfico de influência. O Congresso peruano investiga o presidente e deve recomendar uma acusação constitucional contra ele, o que pode acarretar em um pedido de destituição do cargo, que ocupa há 11 meses.
O partido já havia pedido a Castillo para sair na terça (28), sob a ameaça de expulsá-lo.
– Definitivamente, não somos uma bancada governista – disse o parlamentar Waldemar Cerrón, líder da bancada e irmão do líder do partido, Vladimir Cerrón.
Como expressão da nova posição, os parlamentares do Peru Livre votaram a favor da censura ao ministro do Interior, Dimitri Senmache, por falta de capacidade de gestão. Trata-se do quarto integrante do governo a ser censurado pelo Congresso em decorrência das investigações de tráfico de influência.
Cerrón afirmou ainda que o Peru Livre atuará como uma “oposição propositiva”, ao contrário da “oposição obstrucionista” dos partidos de direita que dominam o Congresso.
– Não seremos uma bancada que estará se opondo por se opor – disse.
Castillo apresentou ao Tribunal Eleitoral Nacional (JNE, na sigla em espanhol) o pedido para sair do partido na quarta (29). Segundo ele, a decisão se deve à sua “responsabilidade como presidente de 33 milhões de peruanos”. Ele acrescentou que vai seguir com o “compromisso de continuar trabalhando e promovendo as grandes mudanças do bicentenário em um país democrático e ao lado de todos os peruanos”.
O presidente ainda agradeceu ao partido por acolhê-lo nas eleições que o levaram à presidência no ano passado, nas quais derrotou Keiko Fujimori.
– Respeito o partido e suas bases construídas na campanha – comentou.
Na quarta (29), o presidente peruano havia comentado que “os acontecimentos políticos atuais fazem parte do destino do país” e ressaltou que “o Peru está acima de tudo”.
– Daqui eu convoco as forças políticas para que cheguem a um acordo para trabalhar pela democracia, para trabalhar pelas questões mais importantes que o país tem – declarou.
O Peru Livre acusa Castillo de não ter colocado em prática o programa do partido, nem cumprido suas promessas eleitorais, mas fazer justamente o contrário. Vladimir Cerrón afirmou que a decisão de pedir a sua saída aconteceu de forma unânime pelo Comitê Executivo Nacional, pela Comissão Política e pela bancada parlamentar do Peru Livre.
Além disso, os líderes o acusam de ter promovido uma dissidência interna na bancada parlamentar, que passou de 37 membros em julho do ano passado para 16, depois de uma série de desacordos. Castillo é apontado como responsável por minar a “unidade e a disciplina” – valores caros a legendas marxistas-leninistas, como o Peru Livre – ao dividir a bancada governista em três blocos.
*AE